terça-feira, maio 31, 2005

Frase: "Igual a um balde de água fria por cima de um vulcão?!"
Noite nos meus olhos de te ir perder outra vez para outra vez voltares passada uma década como se nada fosse e já não fôssemos nada meu amor maldito o mesmo de sempre o eterno e único eu sei que os risos dos planos faraónicos do futuro não apagarão a chama amorfa dos meus olhos em lágrimas e tudo isto não deixa de ser trágico ao torná-lo cómico sonho de adolescente transportado para o homem dos meus trinta e um anos este é o poema sem luz e sem volta de uma tristeza feliz meu amor o eterno e único maldito na minha incapacidade de amar sem rancor e sem culpa percorremos as avenidas de prédios novos nas gargalhadas do silêncio e os lábios sem batom selam as cartas que não serão abertas aos palhaços nas janelas que acenam à caravana que passa e sem graça alguma meu amor maldito o eterno e único adeus de não escrever algo mais alegre neste mesmo adeus de te ir perder para outra vez voltares como se nada fosse passada uma década serpente de silêncio silenciosa sobre a areia serpenteando esquivando os sonhos segredando as sombras segregando as sílabas sob o sol que não arde nesta noite estanque sem sangue e sombria nos meus olhos sós.
RMM

sábado, maio 28, 2005

Frase: "Por mais que continues a vê-lo como um gigante, tu para ele vais ser sempre um moinho".
Que pena


Por favor vem devagar que eu espero
nunca estive assim antes sem razão
se me ouvires pai
a razão do sofrimento não há
não existe como imaginas
é fácil
uma pena é uma pena que pena
não há pena nunca mais
que pena
adeus
o tempo escorrega de pneus carecas
as luzes já vão aparecendo na minha cabeça
também
apesar de não me ouvires meu filho
é difícil parar
os mexilhões sabem cada vez melhor
porque mesmo sem razão o sofrimento existe
e existe a pressa da fuga
que pena é uma pena uma pena
não haver pena nunca mais
que pena
adeus


Rodrigo de Matos

terça-feira, maio 24, 2005

Frase: “O que é que importam as máscaras se por baixo só se escondem caveiras?”



LETRAS DE UMA SÓ PALAVRA

“É “inimigo” que deveis dizer, mas não “facínora”; é “doente” que deveis dizer, mas não “patife”; é demente que deveis dizer, mas não “pecador”.
E tu, juiz vermelho, se quisesses dizer em voz alta tudo aquilo que já fizeste em pensamento, pois toda a gente gritaria: “Fora com esta imundície, este verme peçonhento!”.
Mas uma coisa é o pensamento, outra é o acto, outra ainda, a imagem do acto. A roda da razão não roda por entre elas.
Foi uma imagem que fez empalidecer esse homem pálido. Ele estava à altura do seu acto, quando o cometeu; mas, uma vez este perpetrado, ele não suportou a respectiva imagem.
Então, passou a ver-se sempre como o autor de um só acto. A isso eu chamo demência: a excepção transformou-se para ele em essência.
O traço de giz hipnotiza a galinha; o golpe, que ele executou, cativou a sua pobre razão; a isso chamo eu alienação mental após o acto.”

Friedrich Nietzsche, Assim falava Zaratustra
Frase do dia: "Empresta-me o parafuso a menos que tens a mais".
O Benfica venceu o campeonato de futebol português onze anos depois eu fiquei feliz e também saí para as ruas de Coimbra pintadas de vermelho mas o futebol também exprime uma lógica de dominação que abafa as outras pequenas cidades pequenas demasiadas as bolas demasiados os milhões demasiados os sobreiros a ir abaixo pelas máquinas escavadoras dos bancos dos partidos das cumplicidades resignadas por que é que te enganas que a democracia existe se ela só existe apenas na nossa cabeça de uma sociedade perfeita que não existe o exército de sombras o exército de fachada do sonho imperial americano persegue os inimigos desfeitos das novas Babilónias mas quem habita a torre de Babel não olha para os restos da periferia de hiper-mercados de hiper-textos de sub-textos de contextos impessoais e descontextualizados pessoais e contextualizados da pessoa e do contexto ser este preciso de ti bombas e granadas caos social ordem ensaias a revolução de amanhã na revolta de ontem penso terminar com isto de vez já não há mais lógica ilógica e contra a lógica espera-se pelo referendo deslizas os dedos pelos classificados tentas transportar o sorriso lá fora para o teu rosto cá dentro não interessa o axioma da implausibilidade a faca do talhante espanhol dos sonhos abortados o projecto europeu de uma Europa aos remendos e aos bocados repetes o que já disseste quando reparas que os guardas que guardam os bancos onde depositas o salário com o argumento da ameaça do inimigo têm a boca nas mordaças e não te dizem não te podem dizer que o inimigo és só tu e mais nenhum acreditas ajoelhas tens medo fazes vénias queres-te proteger do e contra o mal que os outros façam quando a pura realidade é que esse mesmo mal está em ti nasce em ti cresce em ti vive em ti é em ti contra ti e para ti só por ti o Benfica venceu o campeonato de futebol onze anos depois preciso de ti.


RMM

sexta-feira, maio 20, 2005

Frase do dia: “O posterior prevalece sobre o anterior, o oitavo sobre o sétimo, o sexto sobre o quinto, o etc. e tal e tal sobre o etc. e tal… mas nada prevalece sobre o primeiro ou o último”.


As flores do teu cemitério esta manhã estavam mais frescas na incerteza da noite ou das plantas a chuva dança contra os vidros que desenha a silhueta esfinge dos teus lábios entre as coxas passeio no parque alheio à cidade cinzenta a falta de oxigénio recalca a memória que me diz as estátuas desiludem não desesperes linda criança a natureza é um cesto de papoilas tão perto de nós dançam as borboletas tão perto de nós sorriem as margaridas tão perto de nós regressam as andorinhas tão perto de nós nasce o coração da Primavera no peito da morte estática tão perto de nós as estátuas desiludem as estátuas desiludem as estátuas desiludem as estátuas desiludem as estátuas desiludem as estátuas desiludem as estátuas desiludem as estátuas desiludem as estátuas desiludem as estátuas.

RMM

quinta-feira, maio 19, 2005

Frase do dia: “Por que é que nunca há nenhuma frase da noite?!”


BLOGS

Ad Primum

A minha amiga Marta, jovem actriz de teatro a alguns meses de se tornar psicóloga, resolveu criar um blog. E, sim, realmente ela tem mesmo razão. No melhor pano cai a nódoa!
Ad Secundum

Descobri, depois de uma visita algo nostálgica ao meu velho disakala, que o Velho Amigo Revolucionário Exilado Agora Noutra Cidade voltou, já há algum tempo, às suas hostilidades on line. E ainda bem que é assim, porque não é só no café que ele faz falta.
Podem visitar o Velho Amigo Revolucionário Exilado Agora Noutra Cidade nestes subterrâneos.

LETRAS DE UMA SÓ PALAVRA


“Diz: «Se o mar fosse tinta para escrever as palavras do meu Senhor, o mar, ainda que se lhe acrescentasse outro igual, esgotar-se-ia antes que se esgotassem as palavras do meu senhor».”

Alcorão

segunda-feira, maio 16, 2005

Frase do dia: “Por maior que seja a tua folha ela nunca vai ter espaço suficiente para a minha palavra”.

Tu pensas no escorpião eu penso no sangue na navalha por cima dos despojos da televisão as histórias de finais felizes é pena mas não acredito que este pulsar do silêncio traga as palavras por dizer quando seriam apenas os gestos a encerrar a queda e a encenar o voo e a vertigem do anjo na parede pintado no meio das suásticas minha querida e linda amiga querida amiga linda tu nunca soubeste ver para além das máscaras dançamos a valsa dos esqueletos no palco das bruxas anorécticas pois a obesidade não tem no amor o seu maior aliado nem na morte o seu maior trunfo no começo de um século promíscuo a viragem na casa dos trinta igual à derrapagem do carro sobre a estrada repleta de vísceras festim de chacais festa de abutres abafam o chafurdar do anjo sobre o sangue no levantar do voo aprisionado na parede pintado no meio das suásticas tu pensas no escorpião eu penso no sangue na navalha armários repletos de esqueletos espelhos repletos de máscaras minha querida e linda amiga querida amiga linda tu nunca soubeste ver o homem para além da carne o outro espelho para além da outra máscara tu pensas no escorpião eu penso no sangue na navalha as palavras não encerram os gestos não comprometem a urgência do voo adiado de anjo aprisionado na parede pintado no meio das suásticas.


RMM

sexta-feira, maio 13, 2005

Frase do dia: "Não precisas de fazer uma visita guiada ao meu coração para te mostrar o sítio onde agora dormes".
Fragmentos, estilhaços, granadas...
25 de Abril de 2001
Tarde, dia da pretensa liberdade, comboio para CBR, embora, amanhã, quer filme ou não,tenha mesmo de voltar. O pessoal de realização, por mais boa vontade que tenha, ainda está completamente verde. Eu e o G tivemos 14, a nota mais alta no módulo de publicidade. Hoje, passeio pelo Parque das Nações com o casal J que me pagou o bife. Vivo, às vezes, porque é a sensação que tenho, como um autêntico pedinte. Linda, boa, tipa sexy, mulata, olhos verdes, no café... Ontem, lá fui ao concerto de Nick Cave com a AT, o irmão mais novo e o L. O concerto foi porreiro mas não aproveitei nenhum fim para mais qualquer coisa. Meti-me num táxi com o L que ainda me deu $ a mais. Vimos aquela C, cumprimentei a Cr. por lá, uma ou outra cara de CBR. A X desculpou-se de não ter telefonado, também foi ao concerto, mas não consegui ver em que camarote estava. Gerou-se outra distância, vou ter e tenho uma real pena de não a ter conhecido verdadeiramente. Depois disto, tenho a sensação de que os nossos mundos nunca mais se vão cruzar. (...) Mas a minha vida afastada cada vez se afasta mais. (...) Acredito, e faço sinceramente por acreditar, que este ciclo se romperá no prazo dos 3 meses do lançamento das cartas. Às vezes, a virar a minha cabeça "para além" do vidro do comboio eu penso: existe um país que vive nas árvores.
(...)
Pombal (paragem na estação), memórias de quando cá vim com a AT e o casal J para o lançamento do CD da Nova Independência no qual aparecia o Cold Wind Blows in the Dark. Ficámos para a porcaria do concerto depois da festa (dei uma entrevista telefónica para uma rádio),a passear pelo castelo. Foi em 97, o último dos anos razoáveis.
Noite, casa. Portugal goleado pela França. (...) Dei uma volta à toa pelo Luna.
Lançamento do espelho. Como é que eu estou?
1- Imagem interna- A Imperatriz III (invertida)
2- A Mente- O Sol XIX (invertido)
3- Os Afectos- A Força XI (invertida)
4- O Futuro Imediato- A Justiça VIII (invertida)
5- Imprevistos- O Mago I (invertido)
6- Pessoas Próximas- O Imperador IV
7- Meio Geral- A Torre XVI
8- Futuro Próximo- As Estrelas XVII
9- Futuro Longínquo- A Lua XVIII
1- Sou vaidoso, egocêntrico e sinto que não estou a criar nada, seja a que nível for.
2- Demasiado orgulho de sabe-se lá o quê. Encaro o mundo como se fosse o meu inimigo.
3- Os meus afectos são interesantes, descontrolados, penso sempre que tudo redundará no pior.
4- O futuro imediato: burocracia, disputas, desequilíbrio, conflito.
5- Imprevistos previsíveis: inércia, indecisão.
6- As pessoas próximas dão uma certa estabilidade.
7- Final de algo. Corte. Sintoma de doença... Um ciclo que se vai encerrar. Qual?
8- Futuro Próximo: esperança realizada, regeneração, beleza.
9- Futuro mais longe: a carta da ambiguidade, de todas as formas, intuição, receptividade, imaginação...
Vem aí uma crise. Não sei a que nível ela vai ser, mas o futuro pode vir a ser melhor.
RMM

domingo, maio 08, 2005

Frase do dia: "Dizes, como se fosse um defeito, que eu sou uma pessoa solitária, mas quanto a ti, querida amiga, por mais que te veja nos teus "banhos de multidão", por mais que "nos" queiras legitimar nessa mesma ordem legítima (?!), sinto e tudo me leva a crer que serás sempre uma pessoa sozinha- e não confundas os dois termos porque não são iguais".
LETRAS DE UMA SÓ PALAVRA
"O absurdo, falso, todos o toleram porque ele se insinua. O verdadeiro, sólido, não- esse exclui".
Goethe

quinta-feira, maio 05, 2005

Frase do dia: "Como é que vês o vento senão pelos seus efeitos?!"
Mão esquerda sinistra precisa de ser lavada está agora debaixo da mesa em casa faz acorde em acorde nos seus dedos as canções que crio acorde em acorde a minha mão esquerda acorda-me deita-me dilacera-me segura o espelho em que me vejo e revejo acorde em acorde afaga os cabelos dela pretos pretos pretos pretos pretos pretos pretos pretos pretos pretos pretos pretos pretos pretos pretos pretos pretos pretos pretos pretos pretos pretos pretos pretos pretos pretos pretos pretos pretos pretos pretos pretos pretos pretos pretos pretos pretos pretos pretos pretos pretos pretos pretos pretos pretos pretos pretos pretos pretos pretos pretos pretos pretos pretos pretos pretos pretos pretos pretos pretos pretos pretos pretos pretos pretos pretos pretos pretos pretos pretos pretos pretos pretos pretos pretos pretos pretos pretos pretos pretos pretos pretos pretos pretos pretos pretos pretos pretos pretos pretos pretos pretos pretos pretos pretos pretos pretos pretos pretos pretos pretos pretos pretos pretos pretos pretos pretos pretos pretos pretos pretos pretos pretos pretos pretos pretos pretos pretos pretos pretos pretos pretos pretos pretos pretos pretos pretos pretos pretos pretos pretos pretos pretos pretos pretos pretos pretos pretos pretos pretos pretos pretos pretos pretos pretos pretos pretos pretos pretos pretos pretos pretos pretos pretos pretos pretos pretos pretos pretos pretos pretos pretos pretos pretos pretos pretos pretos pretos pretos pretos pretos pretos pretos pretos pretos pretos pretos pretos pretos pretos pretos pretos pretos pretos pretos pretos pretos pretos pretos pretos pretos pretos pretos pretos pretos pretos pretos pretos pretos pretos pretos pretos pretos pretos pretos pretos pretos pretos pretos pretos pretos pretos pretos pretos pretos pretos pretos pretos pretos pretos pretos pretos pretos pretos pretos pretos pretos pretos pretos pretos pretos pretos pretos pretos pretos pretos pretos pretos pretos pretos pretos pretos pretos pretos pretos pretos pretos pretos pretos pretos pretos pretos pretos pretos pretos pretos pretos pretos pretos pretos pretos pretos pretos pretos pretos pretos pretos pretos pretos pretos pretos pretos pretos pretos pretos compridos e pretos os cabelos dela que não acordam ou acordarão nunca mais na minha mão esquerda.
dedicado a um amor dos velhos dias de ontem redimensionado nos velhos dias de hoje
RMM

domingo, maio 01, 2005

Frase do dia: "Abre os olhos, pá, se queres olhar para dentro de ti tens mesmo é de olhar em frente".
O poema inútil como se outro alguma vez não o fosse afastas-te da janela porque ela já não mostra nada de diferente do teu mundo cá dentro aos teus olhos lá fora não vale a pena a fuga o regresso o incerto o retorno o tempo certo escuta outra vez o poema inútil que agora te traz a certeza que a consciência quis mascarar de força bruta pura imaculada é falso e tu sabes regressas à mesma certeza de este ser o poema inútil tempos atrás traíste o teu melhor amigo com a mulher que ele amava e também tu podes dizer o mesmo se calhar mas é falso os seus braços os seus lábios agora não são nada as histórias do passado já não interessam no futuro em que já não há ninguém que se possa rir delas o poema inútil faltam os pormenores todos na demasiada longa frase em que as palavras são tão poucas e não rimam não se enquadram não combinam reféns do poema inútil pinta o amanhã o quadro com as cores da paleta de ser tão artista e ser tão sem arte cavalete cavalo cavaleiro a galope dentro do poema inútil que soletra as letras dos versos do amanhã num lugar e num tempo em que toda a utilidade se encerra na inutilidade do poema.
RMM
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AINDA NÃO ME DEI AO TRABALHO DE ORDENAR ALFABETICAMENTE (AZAR!)