quinta-feira, março 30, 2006

Frase dedicada: “Acabou?”


Nada de nada a nada e nada a nada em nome de todos os teus monstros no armário dormindo tontos ao cair da manhã nada de nada a nada e nada a nada em nome do silêncio que ri pelos que se matam lá fora nas ruas do desemprego que é o tédio nada de nada a nada e nada a nada quando são apenas as mãos que seguram a areia mas não sustêm o tempo que te enterra o corpo anónimo e sem lápide nada de nada a nada e nada a nada agora que a orfandade se imiscuiu em nós e sabes que não há cura pois a doença carece das suas cobaias nada de nada a nada e nada a nada pois sabes que não haverá julgamento agora que as mãos sujam a humanidade branca de uma folha vazia nada de nada a nada e nada a nada nos pequenos jogos da sociedade virtual companheira da noite virulenta do desvio nada de nada a nada e nada a nada quando sentes que pouco interessa a lembrança quando o futuro é um beco escuro da cor de um corvo branco nada de nada a nada e nada a nada na gargalhada traída do teu silêncio nesta hora dos que se matam lá fora nada de nada a nada e nada a nada como se fosse preciso reivindicar as cores que a solidão não pinta nos delírios que a sanidade não mostra nada de nada a nada e nada a nada não me impressionas acredita não me impressionas acredita que eu mostro-te o que é a dor invisível rasgada sobre o rasgo do visível a forma do possível na senda do impossível o peso do correcto na leveza do incorrecto nada de nada a nada e nada a nada acredita que eu mostro-te acredita que eu te mostro nada de nada a nada e nada a nada acredita que eu mostro-te acredita que eu te mostro a mim.

RMM


Como diria um amigo meu…

“Em nome de toda a Internet, blogs, msn, sms, e de todas as formas que inventamos para fingir que existe afecto”.

Se quiseres aparecer, agradeço que tragas o teu esqueleto.

terça-feira, março 28, 2006


Frase: “Vem ao meu desencontro”.


Tarde de família em ressaca etílica fingindo ouvir as conversas dos outros responsáveis coesos sólidos cheios de projectos encolhendo os ombros afirmando o nada fugindo com os olhos à certeza vítrea da dor dos ouvidos lancinante debicando o prato ao morrer da tarde de domingo o cão salta contra o vidro ladrando a dor engasgada entre garfada e garfada voam os pássaros lá fora meu pequeno amor comido no prato de mousse nos anos do cunhado mais um brinde a qualquer coisa evitas que se centrem sobre ti os seus olhos a derrota lê-se em toda a linha.
RMM


Não oãN nos son faltou uotlaf sermos somres homens snemoh ou uo mulheres serehlum, deuses ou uo sesued deusas sasued também mèbmat. Hoje ejoH somos somos espelhos sohlepse. Devíamos somaìveD ter ret nascido odicsan árvores serovrà cujo ojuc único ocinù reflexo oxelfer se es estenderia airednetse nas san águas saugà do od rio oir.

sexta-feira, março 24, 2006


Frase: ”Acorda para o sonho”.

LETRAS DE UMA SÓ PALAVRA


“... temos de ir construindo, em cima disto tudo, o que vai negar isto tudo. O que nos vai negar, Paizinho.
Eu sei, mas para ter a certeza, que não posso nunca ter, não é uma coisa feita por medida, como um fato, não tem uma certeza na medida de cada qual mesmo que cada qual vista sua certezinha consigo e sem ela não se pode viver, preciso de te ouvir dizer o que eu sei bem, mas que, dito por ti, por outro alheio, é mais certo: o teu relativo vira absoluto meu – solidariedade, é assim?- e vai também me tranquilizar, nascer a certeza que depois vou destruir e destruindo-lhe para lhe reconstruir e ir assim, contigo que não és só tu mas nós, os do Makulusu, fabricando, não a certeza, mas certezas que vão nos ajudar a ser nem cobardes nem heróis: homens só. Dos cobardes não reza a história, mas o pior, Maninho, quanto mais heróis tem um povo, mais infeliz é”.

José Luandino Vieira, nós, os do Makulusu

POEMA MEDÍOCRE 9

O «agente transformador transforma a dor»

em quê?

Não acreditas em Deus,
tão pouco eu nos homens todos.

Só e apenas na medíocre
mediocridade das palavras,

pois no silêncio vago
das mordaças em bocas
feridas de
herpes, sífilis,
convivem juntas todas
as
pequenas chagas.

RMM

quinta-feira, março 23, 2006

Frase: “A luz na lâmina, a lâmina na luz, a luz ilumina a lâmina, a lâmina ilumina a luz, tens de iluminar a lâmina, tens de iluminar a luz”.


POEMAS DA MINHA VIDINHA

Le temps

Laisse-moi guider tes pas dans l'existence
Laisse-moi la chance de me faire aimer
Viens comme une enfant au creux de mon épaule
Laisse-moi le rôle de te faire oublier
Le temps qui va
Le temps qui sommeille
Le temps sans joie
Le temps des merveilles
Le temps d'une jour
Temps d'une seconde
Le temps qui court
Et celui qui gronde
Le temps, le temps
Le temps et rien d'autre
Le tien, le mien
Celui qu'on veut nôtre
Le temps passe
Celui qui va naître
Le temps d'aimer
Et de disparaître
Le temps des pleurs
Le temps de la chance
Le temps qui meurt
Le temps des vacances
Le temps glorieux
Le temps d'avant-guerre
Le temps des jeux
Le temps des affaires
Le temps joyeux
Le temps des mensonges
Le temps frileux
Et le temps des songes
Le temps, le temps
Le temps et rien d'autre
Le tien, le mien
Celui qu'on veut nôtre
Le temps des crues
Le temps des folies
Le temps perdu
Le temps de la vie
Le temps qui vient
Jamais ne s'arrête
Et je sais bien
Que la vie est faite
Du temps des uns
Et du temps des autres
Le tien, le mien
Peut devenir nôtre
Le temps, le temps, le temps

Charles Aznavour

terça-feira, março 21, 2006

Frase: “Anima-te, gostes ou não, gosto de ti, és a flor que floresce no meu dia negro, polvilhado de raios nos espaços que a sombra não turva, enfeitado na esperança que a Primavera não traz, voo de andorinha sobre o ninho das águias nas pálpebras dos abutres, floresces no meu peito no bater da morte estática, danças na garganta do silêncio como os poetas bêbedos nestes dias da poesia, não se encaixam, não combinam, não se enquadram, passam as linhas, ultrapassam as margens, rasgam as folhas, esperam a noite em uivos, roucos ao cair da lua, loucos ao cair do pano, mas anima-te, gostes ou não, gosto de ti, és a minha flor, só não queiras ser a da coroa mortuária”.


POEMAS DA MINHA VIDINHA


In 3 or for (4) days (plagiatto brevis)

Na lista de nomes auto-rendidos a ácido
Enxofre, benzina, sulfatos vários
Emissários vários, muitos
Nas listas diárias auto-geridas de nomes
Comuns e impróprios
Concretos e armados
Nas várias listas de convidados
Célebres, elites
e autistas (muitos)

na lista de artérias
aortas e carótidas
azuis a perder de vista no branco (a ponto de não diluir mais o céu no inferno)
na lista de exumações entre o positivo e o negativo
entre as intersecções e os cruzamentos e os longos
circuitos (esses) entre os pulsos e as mangas
na lista de datas e moradas e dias e nomes auto-movidos

na lista
estática
agora ou nunca.


Cláudia Pinto, infotraffic


domingo, março 19, 2006


Frase: “Preocupa-te onde cais – não interessa o de onde nem o quando”.


LETRAS DE UMA SÓ PALAVRA

“Nunca se vai mais longe do que quando já não se sabe para onde vai”.

Goethe

quinta-feira, março 16, 2006


Frase impessoal sem óculos: “Abre os olhos; pois sei que apesar dos 7,5 de miopia podes VER que nem sempre é cega”.


LETRAS RETALHADAS

«Apetece-me estar com a subversão. Com a crítica radical à ditadura do consumível, da mercadoria, do quantitativo, do défice. Apetece-me estar do lado da liberdade, da liberdade absoluta contra a ilusão da liberdade de compra e venda, da sobrevivência, da “sobrevida” que substitui a vida, do quotidiano insuportável, do tédio.
Apetece-me estar com os poetas malditos. Com Rimbaud, com Baudelaire, com Nietzsche, com Sade, com Lautréamont a infernizar tudo quanto é direitinho, conforme às normas, castração. (…)
Apetece-me dizer que já pouco acredito nos partidos, mesmo nos de esquerda. Que lutar por lugares dentro da democracia burguesa é aceitar como irreversível a democracia burguesa e, portanto, afastar totalmente do horizonte a revolução, mesmo que se continue a falar na construção da sociedade socialista. (…)
Apetece-me dizer que acredito na poesia e no amor como formas sub-ver-sivas. Que acredito em actos provocatórios, em agitações espontâneas que ridicularizem o instituído, no terrorismo poético. Que a criatividade é o último reduto da rebelião.»


CHE

Emborcar sete cervejas e cambalear só por causa de uma conversa, de uma gaja e de uma foto do Che. Telefonar-te a dizer que estou vivo e que, finalmente, voltei a devorar um livro, que curiosamente se chama “Memórias de um alcoólico” de Jack London. Entrar nas conversas e deixar escapar a deixa. Escrever declarações de amor a gajas de gosto duvidoso. Trair-te em Vilar de Mouros ao som dos Led Zeppelin. Estoirar em sonhos alucinatórios a meio de uma existência pacata. Voltar ao computador e à concha do lar familiar. Confundir vozes delirantes com masturbações mentais. Mas há a foto do Che no quarto a quem apelo contra todas as injustiças, todos os imperialismos, todas as tiranias. Mas há a foto do Che e a boina, o olhar, a estrela e volto a acreditar que a revolução é possível. Apesar de todas as normas, de todas as rotinas, de todos os filhos da puta.

“Amanhã. Acordar.
Morte aos sumos!
De tudo quanto se escreve, apenas amo o que se escreve com o próprio sangue. (F. Nietzsche, Assim Falava Zaratustra)
Ninguém já no mundo pode distinguir pelo aspecto físico um revolucionário de um provocador. (Pier Paolo Pasolini, Escritos Póstumos)
Todos os deuses nos acenam de dentro da cona da gaja que amamos”.


«Só há três saídas: o suicídio, a loucura ou a revolta.»

A. Pedro Ribeiro, declaração de amor ao primeiro-ministro – manifestos do partido surrealista situacionista libertário/OBJECTO CARDÍACO

quarta-feira, março 15, 2006




Frase: “Preenches-me, a noite preenche-se a ela própria, sinto o peso da luz no coração que nasce nos meus dedos, na sombra que oscila no berço de mim próprio, o embalo, o bater sobre a mesa, preenches-me, estás nos meus braços, eu estou nas tuas mãos… por que é que regresso a pensar que faltou qualquer coisa?”


LETRAS DE UMA SÓ PALAVRA

“Um dia, o Rio queixou-se da Ribeira, porque a Ribeira cantava uma canção semelhante à dele, canção que ele herdara dos seus antepassados. Em que é que o doce murmúrio de uma Ribeira nos calhaus rolados, contra as pedras e as árvores, se assemelha ao ruído monótono de um Rio com pressa de ir, a correr, fazer a corte ao oceano? Uma Ribeira brinca com as ervas, com os ramos que o Rio arranca. Poderão as duas canções ser iguais?”

“O homem, cansado de andar, chega à margem de um rio que deslizava placidamente, sem um único remoinho, completamente branco, sob o Sol feroz. Um Pica-Peixe planava; e mais alto do que o Pica-Peixe, muito muito alto, uma Águia anunciava:

San-Ehué! San-Ehué San-Ehué!”

(só a morte! só a morte me pode vencer!)

B.B. Dadié, o pano preto

.it ed sàrta uotse oãn ,odal uet oa uotsE

segunda-feira, março 13, 2006


Frase: “O que lá vai lá vai, o que lá vai lá vem”.

LETRAS RETALHADAS


Frouxamente tornei a abrir os olhos.

Cesarin e o sacristão fumavam cada um seu charuto magro, com todas as esquisitices possíveis, e isso dava às suas pessoas um aspecto terrivelmente ridículo: a Senhora Sacristã, sentada na ponta da sua cadeira, com o peito cavo espetado para a frente, tendo por trás a roda do vestido amarelo que todo se embaloava até ao pescoço e que, ao desfolhar alegremente uma rosa, lhe fazia esvoaçar a única saia que trazia: um sorriso aterrador lhe entreabria os lábios e lhe punha a descoberto nas gengivas magras dois dentes negros, amarelados como a faiança de uma panela velha. Tu, Timotina, tu estavas linda, com o teu cordão branco, os olhos baixos e os caracóis submissos.

- É um jovem com futuro, o presente está a inaugurar-lhe o futuro, dizia o sacristão, lançando ao ar uma nuvem de fumo cinzento.

- Oh! O senhor Leonardo há-de dignificar o hábito que veste, dizia, com voz fanhosa a sacristã, cujos dois dentes se mostravam.

Eu corava, como qualquer rapaz de bem; reparei que as cadeiras se estavam a afastar de mim e que se bichanava a respeito da minha conduta.

Timotina não tirava os olhos dos meus sapatos; os dois dentes sujos eram uma ameaça… o sacristão ria-se, a escarnecer; eu continuava de cabeça baixa!...

- Lamartine morreu… – exclamou de súbito Timotina.

Ó querida Timotina, era por amor deste teu adorador, o teu pobre poeta Leonardo, que metias na conversa o nome de Lamartine; levantei então a cabeça, sentia que só o pensamento da poesia poderia fazer recriar a virgindade a todos estes profanos, sentia as minhas asas palpitar, e disse, radiante, com os olhos em Timotina:

- Belos florões ele tinha na coroa, o autor das Meditações Poéticas!

- Finou-se o cisne dos versos, continuou a sacristã.

- Sim, mas entoou o seu canto fúnebre, prossegui com entusiasmo.

- Mas, exclamou a sacrista, o sr. Leonardo é também poeta. A mãe dele mostrou-me no ano passado umas tentativas da sua musa…

Fingi-me corajoso:

- Oh, minha senhora, não trouxe comigo nem lira nem cítara, mas…

- Oh! Há-de-a trazer qualquer dia, a cítara…

- Mas entretanto, se não lhes parece menos próprio – e tirei do bolso um bocado de papel – vou ler-lhes alguns versos… Dedicados à Menina Timotina.

- Pois, pois, menino, recite. Muito bem. Vá lá para o fundo da sala…

Recuei… Timotina olhava-me para os sapatos; a sacristã fazia-se de Madona; os dois homens debruçavam-se um para o outro… Eu corei, tossi e disse entoando com unção:

Dorme entre sedas de torpor
Zéfiro, em cama de algodão;
Zéfiro, anho folgazão
Expira o mais suave odor…

Toda a assistência se desfez em riso: os senhores chegavam-se um para o outro, a murmurar trocadilhos grosseiros; o que era mesmo terrível era o aspecto da sacristã, que, olhos no céu, se fazia de mística e sorria entre aqueles dentes horrorosos. Timotina, Timotina rebentava a rir! Era para mim um golpe terrível ver Timotina a rir-se até mais não poder!...

- Um Zéfiro brando em cama de algodão, é mesmo uma coisa suave!... – fungava o padre Cesarin…

Julguei perceber qualquer coisa… A risada porém durou só uns segundos; tentaram todos ficar sérios, embora não contivessem um riso, de vez em quando…

- Continue, rapaz, continue! Está muito bem!

Quando Zéfiro vai voar
Da sua cama de algodão;
Quando uma flor o vem chamar
Seu doce odor faz impressão

Desta vez uma grande gargalhada sacudiu o meu auditório; Timotina olhou-me para os sapatos, eu cada vez estava mais cheio de calor, o olhar dela punha-me os pés a arder e a nadar em suor, enquanto eu pensava: Estes sapatos que trago já há um mês são uma dádiva do seu amor, este olhar que ela me lança aos pés é o testemunho do seu amor: adora-me!

Foi então que um cheiro leve pareceu que me vinha dos pés: Oh! Compreendi então as temerosas risadas da assembleia! Compreendi que, perdida nesta sociedade de maldade, Timotina Labinette, Timotina, jamais poderia dar livre curso à sua paixão. Compreendi também a necessidade que tinha de renunciar a este amor doloroso, em meu coração nascido, numa tarde de Maio, na cozinha dos Labinette, ao olhar as ancas torcidas desta virgem-com-a-escudela!

As quatro horas, hora de regressar, soavam no relógio da sala; desorientado, a arder de amor e louco de sofrimento, peguei no chapéu e pus-me a fugir, deitando ao chão uma cadeira; atravessei o corredor sem deixar de murmurar; amo Timotina; e sem me deter, dirigi-me para o seminário.

As abas largas da minha veste preta esvoaçavam ao vento, atrás de mim, como se fossem duas aves agoirentas.

Jean-Arthur Rimbaud, um coração sob a sotaina

sexta-feira, março 10, 2006



Frase: “Limpa os olhos às lágrimas”.


POEMAS DA MINHA VIDINHA

Lembrança
de uma tarde na praia,
ondas rebentando na muralha
altos cachos de brancura rápida.
Lembrança
de barcos balouçando na distância
seus cheiros intensos: cordame,
salitre, cânhamo, resinas.
Lembrança
do vento agreste
com ranger de lonas e madeirame.
Gabardina azul
e os cabelos desgrenhados,
eras
o som distorcido das palavras entrecortadas
ao contraponto poderoso
do mar e do vento.
Eras a oscilante mancha escura
na areia leve,
a alvura dos dedos longos e frios,
longínqua e cinzenta
como uma gaivota na ressaca.


Rui Knopfli, reino submarino

quinta-feira, março 09, 2006



Frase: “Ah pois é!!”.

POEMA MEDÍOCRE 8

Mulher grávida no centro comercial
em lágrimas, esquiva foge
dos olhos de quem passa.

Passo ao largo da falsa pose de pantera
de patas tépidas que me sorri como se eu fosse
um tigre à espreita na encruzilhada de quem passa,
esquecendo-se que
quando ele salta já não as mãos
significam nada, nem ninguém
terá mais nada
nas mãos.

Passo ao largo de passada apressada
esquivo esguio como quem foge
das sombras sob as árvores
onde os tigres fingem dormir.

Lembra-te…

A identidade aqui e agora,
eu não sou eu, mas procuro o não-eu
sem saber ser
o ser ou o sendo que vai sendo
o outro, o não-outro
o não-eu, o não-tu não-aqui nunca-mais eu sou o
não-teu que procura o teu não-meu nunca-mais nunca eu nunca tu
apenas vamos sendo o não-nós.

Escuta…

Não é de água a minha sede de sangue mas não sei se irei matá-la nos teus
lábios pois agora sei que é esse mesmo o lago onde os tigres bebem.

Esquece…

Mulher grávida no centro comercial em lágrimas esquiva foge
dos olhos
de quem passa.


RMM

domingo, março 05, 2006


Frase nos teus braços meus, frase nos meus braços teus (frase sem braços): “O que é a vida senão um delírio autista?”.


LETRAS DE UMA SÓ PALAVRA

"É possível definir a noção de norma num sentido unívoco. Trata-se de toda a situação ou de todo o comportamento esperado por um grupo social. Algumas acções são, pois, prescritas (o que é “bom”) ao passo que outras estão interditas (o que está “mal”), em cada grupo social.
Todavia, é mais delicado definir aqueles que transgridem estas normas e, para Becker, existem pelo menos dois sentidos no termo outsider: pode tratar-se, efectivamente, do indivíduo que transgride uma norma e que se torna assim “estranho” face ao grupo. Mas o termo pode também designar aqueles que são estranhos ao grupo dos desviantes.
Com efeito, o indivíduo etiquetado como estranho percebe também a sua situação e pode avaliar os seus juizes como sendo estranhos ao seu universo.
O termo outsider contém, pois, um duplo olhar: serve para designar o que contém de estranheza tanto o olhar dos desviantes para os normais, como o olhar dos normais para os desviantes “.


Martine Xiberras, as teorias da exclusão, para uma construção do imaginário do desvio


POEMAS DA MINHA VIDINHA

As imagens significam tudo a princípio. São sólidas. Espaçosas.
Mas os sonhos coagulam, fazem-se forma e desencanto.
Já o céu não há imagem que o fixe. A nuvem vista do
Avião: um vapor que nos tira a vista. O grou, um pássaro, mais
nada
Até o comunismo, a imagem final, sempre refrescada
Porque lavada com sangue tantas vezes, o dia-a-dia
Paga-lhe um salário modesto, sem brilho, cego de suor,
Escombros os grandes poemas, como corpos muito tempo
amados e
Postos de lado agora, no caminho da espécie exigente e finita
Nas entrelinhas lamentamos

sobre ossos feliz o carregador de pedra

Porque o belo significa o fim provável dos terrores.

Heiner Müller, o anjo do desespero

sábado, março 04, 2006


Frase no fim da noite violenta: “Sabes quem eu sou??!!”


POEMA MEDÍOCRE 7

Não há perdão.
Não há remorsos.
Há apenas vinho e copos partidos…

Por que é que perguntas se os anjos choram?!

RMM

"Não quero esquecer. Não sei se me apetece. Regresso às lembranças para te matar. O que é esta vida? «Dor e sofrimento». Teatro de enganos. Penso ainda que posso ser um homem melhor. Custa-me é a crer que a vida queira que eu seja. Outro dia apenas. Sonharei com outros lábios. Com os teus. Provavelmente".
Om bhur bhuvah svah tat savitur varenyam bhargo devasya dhimahi dhiyo yo nah pracodayat.

quinta-feira, março 02, 2006



Frase estrelada de um remetente com fome: “Faz frio lá fora, mas no meu peito fritam ovos a pensar em ti”.



A começar do zero e já é muito a começar do zero e já é alguma coisa finalmente a oportunidade sonhada de esquecer os teus múltiplos tu neste momento é madrugada e perdi a noite a entupir o cérebro e a esquecer que o pensamento faz falta mas ainda hesito em sair os vizinhos não gritam mas a música ainda está alta no quarto volta e meia a recordação de ti salta de cima da cama como se o despertador das lembranças tocasse mais alto rasgando o seu silêncio mas sei que de manhã não aqui vais estar mas sei que amanhã já não aqui estarás o ar está frio mas suam-me os dedos que escrevem a começar do zero e já é muito a começar do zero e já é alguma coisa finalmente a oportunidade sonhada de esquecer os teus múltiplos tu.

RMM

quarta-feira, março 01, 2006


Frase: “Nada acabou, mas é o fim de nada”.

POEMAS DA MINHA VIDINHA

Quando vi pela primeira vez a neve cobrindo o ar
com os seus cascos delicados, disse que jamais
viveria onde não nevasse, e quando
o primeiro homem forçou o caminho dentro de mim,
e forçou passagem,
e chegou ao quarto estreito, e afastou a
cortina para eu poder entrar, soube que jamais
conseguiria voltar a viver longe
deles, a estranha raça com os seus enormes
cascos ensanguentados. Hoje, deitados
no nosso quarto estreito, ouro negro com
reflexos de neve, enquanto os flocos delicados se
esgueiravam do céu
tu vieste dentro de mim, empurrando
a cortina, revelando o quarto estreito,
ouro negro com reflexos de neve,
onde nos deitávamos, e onde tu me penetraste e
empurraste a cortina, revelando
o quarto estreito, ouro negro
com reflexos de neve, onde nos deitávamos.

Sharon Olds, satanás diz

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AINDA NÃO ME DEI AO TRABALHO DE ORDENAR ALFABETICAMENTE (AZAR!)