quinta-feira, maio 25, 2006



Frase na madrugada: “Os teus olhos são como o sol do meu inferno”.



«Não preciso nem de sorrisos nem de palavras. Algures lá longe o cisne rasga as águas como se me rasgasse a garganta. Eles ainda esperam, mas os seus olhos já não me inundam de esperança. Envelhecemos mentindo a nós próprios e provavelmente não será neste mundo feito de cinzeiros velhos, de espelhos partidos, que as coisas farão algum sentido. Colou-se em ti como uma tatuagem. Nada de definitivo, mas mantém-se na pele. Ali. Aqui. Até ao fim… Até ao início… Tal como nesses anos, também eu continuei a sonhar com o Tigre de Braman, mas as partículas enchem-se do próprio vazio que as alimenta. Não sei, mestre, estejas lá tu onde estiveres se ia esperar que fosse o tigre a matar-me. Mas nós somos sempre o mesmo, não é? Já que não existe o Ser, apenas o Sendo, passe o tempo que passar por cima de todas as conjugações verbais. Acredita que isso hoje significa muito pouco… e é estranho… acho que é mesmo por significar muito pouco que as coisas começam a ter algum fundamento. Há que esvaziar de toda a esperança, esvaziar de todo o amor, ambição, desejo… Tal como nas peugadas do Buda fugido da Índia, à espera da sua morte derradeira, tudo o que nos rodeia, tudo o que nos cerca… apenas dor. Dor e sofrimento. Tal como eles dizem: a vida é dor e sofrimento e todas as coisas são suas afluentes. Somos todos afluentes do rio da dor. Tal como eles dizem: elimina a ambição e o desejo, assim eliminarás a dor. Esvazia-te de toda a esperança, retorna à unidade. Esquece… hoje, estas horas, estes dias que passam, pouca ou nenhuma coisa por que morrer, lutar. Hoje! Hoje não preciso nem de sorrisos nem de palavras. O cisne continuará a rasgar as suas águas. A morte morre nos meus dedos até um outro início.»

sábado, maio 13, 2006



Frase: "Aparece!"

quinta-feira, maio 11, 2006


Frase dos outros: “Achas que isso só acontece a ti?”.

DIÁLOGO ABSURDO-IDIOTA 3

Fonte: Coimbra, discoteca Via Latina, Março de 2006

O “vosso” bloguista RMM, aka Black Rider, entra no WC local e dirige-se aos urinóis. Os mesmos ditos do referido espaço consistem num fosso de metal com uma lotação para quatro indivíduos (cinco se todos se encostarem uns aos outros… pois, não é lá muito agradável). Estando, quer o canto esquerdo, quer o canto direito ocupados, resolve ocupar o lugar central do dito urinol comunitário. Ainda durante o acto de desapertar as calças repara que o indivíduo ao seu lado direito – rapaz na casa dos vinte e poucos, t-shirt vermelha, cabelo rapado – desviara os olhos na sua direcção, mais precisamente para a direcção das suas zonas baixas. Sendo a necessidade mais imperiosa do que outra qualquer consideração, RMM resolve dar prosseguimento ao acto mijatório. Repara, de soslaio, que o rapaz de vinte e poucos, t-shirt vermelha, cabeça rapada, continua a olhar sistematicamente para o seu baixo-ventre – embora o vosso bloguista já se encontre em pleno acto. O rapaz resolve partir o silêncio salpicado pelas gotas de urina sobre a latrina colectiva.
- Hey!! – interpela o rapaz, olhando para RMM que finge não ter ouvido.
- Hey!! – insiste o rapaz na sua tentativa de comunicação.
- Hey!! – continua o dito cujo.
Neste momento, RMM resolve indagar o porquê de tanta insistência.
- Sim!?
- Hey!! – continua o rapaz – Isso é ouro? – mas sempre a olhar para a zona genital de RMM.
- O quê? – pergunta RMM sem perceber a pergunta.
- Isso é ouro? – insiste o jovem.
RMM olha para a frente mas, óbvio, a única coisa que vislumbra são as suas próprias mãos segurando o instrumento reprodutivo-urinário que, nesse preciso momento, se encontra em pleno acto de cumprir a sua segunda missão – isto é, verter urina.
- Se isso é ouro? – continua a insistir o rapaz sem nunca despegar os olhos das partes baixas de RMM.
- O quê? – pergunta o vosso algo atónito bloguista.
- Os anéis.
- !!?? Não. São de prata.


«Estacionei o carro, acendi o vigésimo terceiro cigarro do dia e coloquei a mão direita dentro das suas calças. Ela tentava sintonizar o rádio, nenhuma estação lhe agradava e não havia grande vontade de ir para mais lado algum. A mão deslizou até ao rabo. Ela sintonizou numa qualquer estação que debitava James Blunt (??!!). O fumo saía pela janela entreaberta, sem conseguir ferir uma noite que já não era nossa. Não se via a lua, apenas a luz dos candeeiros iluminava uma rua sem saída. Olhando para cima, pelo vidro do Peugeot amassado, podia-se vislumbrar uma ténue luz acesa de um qualquer apartamento daquele prédio. Daquele prédio. Daquele enorme prédio que nos tapava toda e qualquer vista. A mão continuava dentro das suas calças, dedos frios sobre as suas nádegas. Mas algo ali já não era nosso, muito menos nós o seríamos tampouco. Um pensamento demasiado longe, demasiado perto, acabara a música tal como o cigarro se apagara. Ainda pairava o odor a fumo… de uma certa forma, pela impossibilidade de escolhermos a nossa vida acabamos, inconscientemente, por escolher os retratos para tantas e tantas mortes. Ela procurou outra estação.
Pensava eu em quê? Dias atrás tinha estado com um amigo no café – a pessoa mais inteligente que conheci – e tive a sensação de que mais nada havia para dizer um ao outro. Senti isso. Senti isso no fim. Senti isso ao apertar-lhe as mãos. Ele iria continuar a sua carreira de sucesso, casar, ter filhos… Pensava eu em sabe-se lá o quê.
Olhei para ela. A minha mão continuava dentro das suas calças, os dedos de encontro às nádegas. Pensaria (talvez) ela que o rádio lhe trouxesse as canções antigas? Desejaria ela realmente que assim fosse? Pensava eu em quê? Eu?! Em nada. Que não se deve esperar nada quando se sabe que a solução pode estar no não ter esperança. Olhei para ela. Os seus olhos vibrantes a trespassarem o vidro do Peugeot amassado, toda a sua vida pela frente… ela não estava ali. E eu? Será que estava? Não a amava, é certo, se é que isso importa… Provavelmente… nada. Os dois ali. Ela à procura de uma estação. Eu à procura de calar a música. Os dois ali. A mão dentro das suas calças… A mão junto às nádegas antes de ela dizer: “Não mas alargues. São novas”.»
?it ed egetorp so meuq airàtilos aossep amu sè eS ?seled egetorp et meuq airàtilos aossep amu sè eS

domingo, maio 07, 2006


PREPARA-TE


Frase: “Revive”./\.”odiviv oãn adnia o eviveR” :esarF

«Ultimamente consigo lembrar-me de quase todos os meus sonhos. É estranho, pois nem sempre foi assim. Num destes últimos… eu e a C, os dois correndo pelo vazio da noite… os dois correndo pelo vazio, até que nos encontrámos diante de um túnel que não era mais do que um enorme cemitério iluminado. Como se tudo ainda não fosse mais do que um sonho e os cães que nos ladram aos ouvidos não fossem tão apenas os mortos que nos reclamam dizendo: “Comecem a viver! Comecem a viver!” Os dois correndo, os dois sempre correndo pelo vazio, os dois sempre a correr pelo vazio da noite, entrámos no cemitério. Ela levava a máquina fotográfica na mão e apontava para tudo o que aparecia à nossa volta. Eu corria ao seu lado e estávamos felizes como num tempo que não me lembro. Havia mais pessoas lá dentro e as luzes eram perfeitamente nítidas de cores. O tecto muito alto, vibrante de som e luz, como se fosse uma daquelas festas trance. Os dois correndo, os dois sempre a correr pelo vazio da noite, os dois sempre correndo, olhámos para o nosso lado direito e vislumbrámos um rio. Parámos de correr. Por cima do rio um enorme céu de foguetes de artifício e um enorme esquadrão de navios de guerra sobre as suas águas com as artilharias apontadas para nós. Tudo isso lá dentro. Lá dentro. Lá dentro do cemitério… Eu e a C. Pedi-lhe: “Tira-me uma foto”. E ela assim fez e eu sorri, sentindo o flash que me queimava. Os dois felizes, eufóricos… continuámos a correr. Diante do rio, por baixo das luzes, em frente aos navios de guerra, mas dentro do cemitério.»

.zilef êS .oçerp euq a men edno atropmi oãN .zilef res euq àh …atidercA .ogitnoc sarac ed àd euq ohlepse o è ejoh saM . amugla asioc ed oifàtipe ,adan ed otnematset ecerem oãn odnum etsE .atropmi oãn sam ,ies ue ,ohnartse aoS .ebas ele euq atidercA . aroh a ragehc odnauq àrarretnesed so euq oidav oãc olep sodarretne oãres sosso setse aid um sam ,”ue oãn euq mèugla ed odarre oproc on icsaN” .oruoset reuqlauq ed apam o oãrartsom oãn satircse sanigàp sa e “opmet ed sam ,aiera ed è oãn otresed O”
.atropmi oãN .iuqa ajetse oãn euq ortuo reuqlauq ed ;èfac ed ojna reuqlauq ed sasa san ebaC .ednarg oãt missa res oãn edop omsiba mu e uèc mu ertne açnerefid a euq asnep soãm san oãlab mu moc açnairc amu atrop á retab et es aid mU . ****** mu airiugesnoc o sonem otium ,mariugesnoc o sertsem so meN .oãçil a rednerpa a ,emon ues o atnetso euq oliuqa ou ,adiv a essof euq moc rezaf arap açrof ariedadrev a evit acnun e rednerpa em-uotlaF .ranisne ossop et oãn ,saivbò seõzar rop ,ue euq seõçil sa rad et ed à-es-ragerracne adiv A .et-sanagne – oirès a olaf oãn ue euq sasnep eS .etsatreca – ocnirb ue euq sasnep eS

quinta-feira, maio 04, 2006

“Om yajnopaveetam paramam pavitram prajapateryat sahajam purastaat. Aayushyamagryam pratimuncha shubhram yajnopaveetam balamastu tejah.”



Frase de ontem ao almoço: “Acredita, estou preparado, daqui a dois anos, sim, acredita que estou preparado psicologicamente para duas hipóteses daqui a dois anos: 1 – ou estou rico; 2 – ou vou preso; tenho apenas duas hipóteses e estou preparado psicologicamente para as duas”.


DIÁLOGO ABSURDO-IDIOTA 2

Fonte: Passado remoto.

- O que é que vês em mim?
- Nada.


POEMAS DA MINHA VIDINHA

Lição Base

observo em ti
a necessidade de crescer
a vontade de amar
o desejo de vencer

vejo em ti
o desespero de morrer
a agonia de falhar
o pavor de perder

é… em ti não observo nem vejo grande coisa

Luís F. Simões, neo-normal

terça-feira, maio 02, 2006




Frase: “Agora sei com quem não posso contar – contigo”.


POEMA MEDÍOCRE 14

«Morreste no meu coração»

Podia dizer A ou B ou C, mas sei
e
sinto que
hoje
nem todo o alfabeto lá chega.

O vento percorre a canalização
da casa velha e dos seus
vivos que hoje não
vivem apenas nos
retratos empoeirados por cima
dos móveis dos fatos nos seus
guarda-fatos poeirentos.

Em cada centímetro de pele a peregrinação a outro qualquer
universo desfeito,
gasoso,
líquido de ar
rarefeito.

De frente ao mar – o sonho.
De frente ao berço – o abismo.
De frente ao sonho – o mar.
De frente ao abismo – o berço.

«Morreste no meu coração» e neste poema longo
vais morrendo outra vez
aos poucos.

O vento traz o que outrora trazia:
Coros de lamentos e a vontade
de partir a pedra de David na cabeça do gigante.

Gigante?!

O vento traz o que outrora não trazia pela canalização como
dedos de crianças agarrando o coração
de um pássaro vivo.

Vivo?!

O vento traz o que outrora trouxe:
Coros de escravos nas sombras das galés em busca
de um sonho
irremediavelmente por sonhar.

Sonhar?!

O vento traz o que outrora não trouxe pela canalização como se fossem
os
braços de Shiva. (não a vês dançar?)

Dançar?!

O vento traz…
O vento há-de continuar a trazer…

Mas… «morreste no meu coração».
Irremediavelmente
RMM
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AINDA NÃO ME DEI AO TRABALHO DE ORDENAR ALFABETICAMENTE (AZAR!)