terça-feira, outubro 31, 2006

Frase: “Quanto mais nos rimos mais nos apercebemos que não tem piada”.


POEMAS DA MINHA VIDINHA

LOTUS

Não toques minha fêmea,
não toques
na pele longínqua do meu peito;
não descerres portas engalanadas
sem conheceres o monstro
que te espreita,
sedento e desfeito.

Quando te voltas
e pairas na órbita
concêntrica
do teu umbigo,
são facas,
são garras
que empunho.

- Sabes minha fêmea,
quantas caras tem o sonho?


Jorge Rosete, o mel destes dias
Frase: “Muito à frente e demasiado atrás”.


«Atirar a matar. Há que atirar sobre a própria arma, sobre a própria morte.»

segunda-feira, outubro 30, 2006

Frase: “Apesar de ser um cenário urbano não faltam árvores – não descartes a sociologia do enforcamento”.


«Cão que ladra não morde, dizem eles e a caravana passa. Mas não penses que não seria capaz… O teu tronco é o plágio e a tua raiz é o sofrimento. Plagias os que não viveram tal como Deus plagia os mortos – precisam da mesma cruz. O animal domesticado ainda pode lembrar-se do sangue na boca. Lembre-se, ou não, do seu nome. Na teoria tudo são objectos no papel, na prática a faca encostada na face esquerda de um rosto.»
Frase: “Um dia a seguir ao outro ou um dia a seguir o outro?”

P.S. – Não cobres pela conversa fiada.

sábado, outubro 28, 2006

Frase com nicotina: “Fumo nos teus lábios pois sei que será deles que virá a minha morte”.

P.S. O Governo Adverte.

Tens lume?
Frase: “Eu sei que (no fundo) preferes a carne ao plástico, mas tal não quer dizer que (no fundo) não deixes de preferir a carne plastificada”.

«Defendes a promiscuidade sob o disfarce de tal ser moderno – mas esse é apenas outro dos múltiplos caminhos da solidão. “O voyeurismo só nos deixa mais sós”, mas em qualquer espaço de afectos que seja partilhado tu sabes que no calor do juntar das lágrimas há sempre aquela - aquela que é só tua. Tem o teu rosto.»
Frase do abutre: “Sou o sonho do vultur, vivo o abismo di sakala”.

«Antes ser só do que ser um sol d ´inferno. Tudo aquilo que dizes ser fogo a água apaga. Não há nada mais lógico. Pau, pedra, tesoura… O pau de Pedro partiu a pedra de Paulo e a pedra de Paulo partiu o pau de Pedro. Mas o pai de ambos partiu-os aos dois. Não há como escapar à duplicidade. Mas há sempre um gémeo para além do gémeo que se mostra com o seu semelhante. Mas por mais que os espelhos mintam, a unidade sobrevive por cima de todas as coisas.»
Frase: “Soletra o silêncio”.

«Esquece-te de ti se te queres esquecer do mundo. Esquece-te se queres esquecer o mundo. Esquece-te antes que o mundo te esqueça. Esquece-te pois o mundo, dele próprio, se esquece. Esquece tal como ele já te esqueceu.»

sexta-feira, outubro 20, 2006


Frase: “Já chega! – acorda, pá, estás a deixar que a mente te controle, que o vício se insinue, que o medo te volte a controlar os passos, demasiado álcool, cigarros em demasia, noite após noite após noite, acorda, pá, mas foi este regresso, eu sei, o frio, os dejectos, o abismo da noite académica, esquinas de bares infectos, olhos de soslaio, paranóia, esquece tudo isso, pá, queres de volta a inocência mas acredita, realmente, acredita que para isso não podes ser, acredita que não podes: - não podes ser tão inocente! – Há que marchar pelo diálogo da culpa e do arrependimento e do conflito; manchar as páginas de sangue, não as mascarar, não as ocultar… dar-lhes de beber”.


DIÁLOGO ABSURDO-IDIOTA 4

Fonte: café Tropical em Coimbra

- Essa de quem estás a falar não é uma assim alta?
- Sim…
- Cabelo curto aloirado? Olhos azuis?
- Ya…
- Ela também não costumava andar pelo T.? Acho que com o M.?
- Sim.
- Estava na festa da R. não era?
- Sim, estava lá.
- Não faço a mínima ideia de quem estás a falar.

quarta-feira, outubro 18, 2006



Frase antiga a um amigo: “Escreve-se o que ainda não se viveu – transformam-se as letras nas palavras do oráculo”.

LETRAS DE UMA SÓ PALAVRA

O TIGRE QUE BALIA

Ao atacar um rebanho, um tigre-fêmea deu à luz e, pouco depois, morreu. O filhote cresceu entre as ovelhas e chegou, ele mesmo, a pensar que era uma delas. E como ovelha foi considerado e tratado por todo o rebanho. Era extremamente afável, pastava e balia, ignorando por completo a sua verdadeira natureza. Assim se passaram alguns anos.
Certo dia, um tigre encontrou o rebanho e atacou-o. Ficou estupefacto quando viu que, entre as ovelhas, havia um tigre que se comportava como mais uma delas. E não pôde fazer outra coisa senão dizer-lhe:
- Ouve lá, porque te comportas como uma ovelha se és um tigre?
Mas o tigre-ovelha baliu assustado. Então, o tigre levou-o até ao lago e mostrou-lhe a sua própria imagem. Mas o tigre-ovelha continuava a achar-se uma ovelha, de tal modo que quando o tigre recém-chegado lhe deu um pedaço de carne, nem a quis provar.
- Prova – ordenou-lhe o tigre.
Assustado, sem parar de balir, o tigre-ovelha provou a carne. Nesse momento, a carne crua despertou o seu instinto de tigre e, de súbito, reconheceu a sua natureza.

Identificados com a nossa natureza psicossomática e com os nossos anseios e ansiedades, assim por modelos e esquemas socioculturais, viramos as costas à nossa realidade interior que, porém, é mais autêntica do que tudo o resto.

Ramiro Calle, os melhores contos espirituais do oriente

ANALISA TRANSFORMA MUDA CANALIZA



terça-feira, outubro 17, 2006

Frase: “A casa é só uma, por mais que sejam os fantasmas”.

«Hoje trais Deus tal como outrora traíste o ateísmo. Hoje sinto e sei: cada vez me diz menos. A luta. Seja a de classes, seja a de qualquer coisa que vá contra o meu extremo comodismo. Esta já não é a oportunidade sonhada. É o próprio sonho, mas a máscara de Freddy Krueger ainda se insinua no espelho. Outra vez a máscara e o engano. Olhas para o tecto. Olhas para o tecto mesmo sabendo que os astros estão lá fora. Guardas as cartas na gaveta. Guardas as cartas na gaveta mesmo sabendo que a gaveta está trancada em ti. Alimentas o vício na sombra dos cadáveres que não enterras. Alimentas o vício na sombra dos cadáveres mesmo sabendo que tu és o próprio vício. Alimentas o sono sobre a almofada. Alimentas o sono sobre a almofada mesmo sabendo que a fada dos dentes não virá tão cedo. Mas ainda caem. Os dentes. O cabelo. E no fim ainda cairá a pele e o osso. Desculpa.»

LETRAS DE UMA SÓ PALAVRA

“Sonhos de homem, sementes de domínio, gérmenes de impérios”.

Joseph Conrad, o coração das trevas

quinta-feira, outubro 12, 2006

Frase: "Esconde a raiva nos dedos".
«Esconde a raiva nos dedos. A carne pode parecer intacta, mas o mesmo podes não dizer dos ossos.»

sábado, outubro 07, 2006


Frase: “Depois eu penso nisso agora”.


«Ainda muito novos, os dois. Éramos ainda muito novos. Os dois no ringue de boxe improvisado no pátio da casa velha. Nessa altura ainda os meus avós eram vivos, nessa altura África não era só uma palavra antiga num velho álbum de recordações. Eu e o meu primo, no pátio da casa velha, no ringue de boxe, a minha cadela a rosnar e a atirar-se contra as grades, a raiva e a insanidade de um animal numa jaula. Os dentes caninos, as mãos sobre a infância, a inocência dos seis ou sete anos. O pátio da casa velha, um mundo, um coliseu, um ringue de boxe, uma arena. Eu e o meu primo, os dois guerreiros, os dois adversários, os dois gladiadores. Uma mão nua, a outra com uma luva, o combate de iguais sob o sol da tarde. Eu com a luva direita, ele com a esquerda. Eu era muito mais alto, mais forte, mais escuro, mais ágil. Ele era mais pequeno, pálido, franzino… Eu saltava na minha loucura, na minha arrogância, selvajaria e rapidez na distribuição dos socos. Os outros primos gritavam e incentivavam. Eu vindo de África, ele do Porto, no pátio da casa velha, na Coimbra dos despojos e dos anos e anos depois, tão depois, tão igual e tão diferente, antes do reencontro com o eterno e com o para sempre. Antes e depois e para sempre, amizade forjada a sangue e na cumplicidade dos copos de cerveja, das bandas rock, das suas traições encobertas às namoradas, do meu apagar a meio da casa dos vinte, da sua ascensão meteórica ainda antes dos 30 anos de idade. O desprezo pelos fracos, quando a fraqueza não nos calha a nós, no nunca ceder, no escapar ileso e no avançar. O jogo de cintura, o espelho, o escorpião, o soba do rio Kuanza, eu distribuía murros, esquerda, direita e direita, esquerda, os gritos dos outros primos nos meus ouvidos, o pátio da casa velha, o coliseu, a arena, os pneus de um carro sem travões. Ele encolhia-se, desviava-se, encaixava os murros. Eu atacava, preso às minhas certezas ganha o mais forte, e o mais forte era eu. Eu apenas e apenas eu. O postulado, o paradigma, o anjo definitivo na distribuição da dor. O mais forte era eu. Até que primeiro um, depois outro e… não tenho bem a certeza, mas penso que um terceiro murro me fez vacilar. Não caí, é certo, mas a verdade é que uma mão adulta fez parar aquele combate, recolhendo cada um ao seu canto. E ainda bem… Ali. No pátio da casa velha. No ringue improvisado. Sujo de suor, ferido no orgulho, asas encolhidas, o mundo naquela derrota. De todas as formas… apenas uma. Apenas uma lição e das mais básicas. O maior erro é subestimar o outro. Quem pensas tu que é o fraco? Não precisei de mais de um combate para isso. No meio do pátio da casa velha, nesses dias e nesses anos, nesses anos e nesses dias. Em todo o tempo que leva uma mão a esmurrar um rosto. Aprendi a lição dessa vez. Por que é que não a aprendeste também?!»

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AINDA NÃO ME DEI AO TRABALHO DE ORDENAR ALFABETICAMENTE (AZAR!)