quarta-feira, outubro 12, 2005

Frase: “Desculpa se te escrevo outra vez mas a folha está fria”.

Anos depois do suicídio falhado regressas para o meio das folhas de Outono pensas sinceramente comprar um casaco novo mas faz pouco frio e talvez seja melhor esperar os saldos o teu coração sonha com a silhueta de um amor mais belo pois sabes que a partida deve ser feita a dois quando as despedidas vivem-se no singular no rádio toca uma música lamechas balada de Outubro descompassado e sabes que não voltarás a casa pois o motor do carro o arranque hesita para a manhã fria mas ainda faz sol na rua o momento é agora esperas pelo amanhã de certezas frágeis na objectividade da incerteza sólida concreta feita de aço como o teu peito aos 19 anos de idade maciço de granito mas o tempo passou já não és um jovem seguras o jornal no café ao almoço renegas ler os olhos das mulheres que passam não te interessam postulas a vida como um lugar tranquilo no refúgio sagrado do existencialismo absurdo ressuscitas Deus às memórias da infância inacabada do ursinho de peluche de coração felpudo em juras de eterno amor à boneca de plástico que a tua irmã tinha na estante sem lhe contar que à primeira oportunidade de fugir fugiria a volante no carro de rolamentos feito de madeira sem airbag sem travões e sem carta de condução nem de adeus acelerando à procura do amor em todas as bonecas de trapos.

RMM

5 Comments:

Anonymous Anónimo said...

Gosto de sentir os pêlos dos braços a erguerem-se, pois é sinal de que o Outono chegou. E as melhores estações são, infelizmente, as de transição. As folhas caídas propiciam a reflexão. Deixa que o frio as invada (não sei se um casaco te protegerá dele, ou delas!). Bem, o que é preciso é, como costuma dizer quem disto sente falta, ESPERANÇA. Sugestão: observar uma folha de Outono a dançar ao sabor do vento. Isto sim, uma prova clara e inequívoca da presença da morte na vida! E as folhas, será que também elas se suicidam todos os anos?! O amor é uma chatice, pá: faz questão de bater à porta quando não está ninguém em casa, não é? E dizem eles que toda a gente manda mail ou sms!! Talvez as novas tecnologias ainda não tenham chegado aos sentimentos! Enfim, desculpa lá, só agora me apercebi de que isto não é um comment- não sei bem o que se passou aqui... vontade de te escrever e gosto em ler-te, most likely! Meu caro, desejo-te um bom Outono, cheio daquelas folhas amarelas e vermelhas carregadas de tempo. Lembrando Type O Negative: "October Rust". Ah, já agora, um presente de infância que gostava de ter tido seria, SEM DÚVIDA, um deus de peluche! Um abraço e espero-te (num café) perto de mim... um dia sempre. uma serpente (em mudança de pele)

1:50 da tarde  
Blogger Black Rider said...

É bonita essa imagem das folhas a dançarem e não será, certamente, o suicídio, ou a queda, das mesmas a retirar o significado da beleza dessa mesma "presença da morte na vida".
As estações de transição são sempre as "melhores" por mais perdas que elas tragam - induzem ao pensamento e à vontade de nos resguardarmos e, sem dúvida, um casaco novo pode não ser o suficiente.
Há algo nesta altura que alimenta um certo vazio das presenças que seriam necessárias - ao mesmo tempo que deixa que as ausências ocupem outros (não menos) necessários espaços.
Talvez o amor não tenha mesmo chegado às nova tecnologias. Ou se isso já aconteceu... muitas vezes as "cartas" e as palavras necessárias são apenas SPAM (quando não são vírus). Não sei se ele irá bater à porta da casa ou se terá lá alguém para o deixar entrar. É preciso sair e passar a ser a própria casa (ou então a porta ou os dedos que batem). Nem a madeira, nem o cimento, podem alguma vez responder. É preciso que a voz venha da carne ou do osso ou do sangue ou das palavras.
É mesmo isso, amigo. É preciso ter e ser a própria esperança; sob o risco de nos deixarmos consumir e submergir pelo lado mais negro e trágico - por mais fascinante e belo ele seja, com tudo aquilo que ele nos sugere.
Um deus de peluche seria mesmo um bom presente, mas por falta de um, infelizmente, só me resta também desejar-te um bom Outono cheio de muitas e muitas folhas.

abraço!

2:57 da manhã  
Blogger Conceição Paulino said...

procurar amor em bonecs (sejam quais forem deve ser uma merda). bom f.s

2:47 da tarde  
Blogger Black Rider said...

Procurar amor em bonecas pode não ser assim tão mau - a questão é se essa procura pode redundar nalguma coisa. Mas há pessoas que procuram e escolhem o pior, não sei. Além do mais, quanto mais se procura o que quer que seja menores são as probabilidades de a podermos encontrar. No caso do amor isso é elevado ao seu expoente máximo. Penso eu, de todas as formas sempre fui demasiado exigente comigo e com os outros. Mas isto é apenas pura retórica em relação a algo de que entendo muito pouco o que, talvez, não seja por completo mau - já que sinto que ainda há muita coisa que pode preencher o meu coração e a minha alma. Racionalizar a emoção é sempre uma tarefa inglória; o que é preciso é deixar fluir.
Há quem ame bonecas de trapos, bonecas de plástico, bonecas insufláveis, não sei, outros e outras amarão Kens e Barbies e outros, por sua vez, ursos e girafas de peluche. Outros amarão os bezerros de ouro, outros os gigantes de pés de barro, não sei. Neste mundo em que vivemos cada vez é mais difícil distinguirmos o que é carne e o que é plástico, o que é sangue e o que é areia. Mas para existir amor é preciso que nós (nós mesmos) não nos transformemos em plástico sob o risco de passarmos a ser os mesmos bonecos que criticamos.
Voltarmos a sermos humanos uns para os outros.

1 beijo para ti e um excelente fim-de-semana.

4:50 da tarde  
Blogger Fata Morgana said...

Folhas frias... porque não há nada que possamos lá escrever.
A silhueta de um amor mais belo é o despertar dessa impossibilidade para outras palavras, ou as mesmas mas que soam diferentes. Talvez.
As folhas de Outono são lindas, cheias de nuances de tons, o Outono é a estação mais bonita de todas. Porque raio continuo a preferir o Verão?

Tolices.

Beijo daqui.

2:23 da manhã  

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