O corpo. Magnífico desafio do teatro dos limites, métrico movimento arrebatado em turbilhões de luzes suspensas, e a densa voz pulmonar de um homem a gelar uma sala. Esse mesmo corpo ceifado à crueza chã da malícia, da massagem, do intemporal ciúme da pele. (Convences-te entre parêntesis onde arrecadas razões, estilhaços, incontáveis becos sem saída. Duvidas, Bárbara? De que duvidas? Percebes agora que não percebes o que nunca percebeste. É a tua casa, o tabaco da noite na roupa que chega, a alma fria dos pés, voláteis lembranças de esperma. Sobram-te peças no teu catálogo de misérias inconsequentes, mas não é a evidência que te paralisa. É o inimaginável estar tão perto.) Deixa um cheiro novo no corpo que o outro estranha. Perscruta. Sublima. Oferece com requinte ao banquete corrosivo das feras de um amor visceral, de uma felicidade cancerígena. Num campo de batalha amanhecido argumenta-se ainda como se a insanidade putrefacta não fosse já cada palavra, e cada palavra já nem nada de si mesma. Não são os olhos que não vêem, nem a mente que não tolera. É o corpo que não sabe.
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Que anonimato é este em que toda a gente te conhece e ninguém sabe o teu nome?
Miguel Ramalho Santos, auto
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Que anonimato é este em que toda a gente te conhece e ninguém sabe o teu nome?
Miguel Ramalho Santos, auto
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