POEMA MEDÍOCRE 12
Há uns quantos de dias
apenas
falei pela primeira vez sobre o vício, a doença,
o desvio do traço do meu demónio privado
na esplanada, esfregando os olhos ao calor como
uma outra coisa qualquer que
ali estivesse mas não
estava.
Acredita: não sou o teu sol, mas falo do meu coração.
Agora.
Que o peso da tua ausência se torna indiferenciado e
já não
me verga os ombros.
Há uns quantos de dias apenas falei
pela primeira vez sobre o desvio do sangue e a morte
dos versos que não existem e não há cura
que a posologia dos medicamentos
não enquadre.
Foi só.
Há.
Uns.
Quantos de dias.
Apenas a mão aberta sobre os meus ombros,
os raios sobre os meus dedos.
Acredita: não sou o teu sol, mas falo do meu coração.
Foi só há uns quantos de dias apenas falei pela primeira vez sobre a doença o desvio os dias sem calendário de folhas «assinaladas e assassinadas» a negro e a vermelho e a vermelho e a negro acredita não sou o teu sol mas falo do meu coração acredita não sou o teu sol mas falo do meu coração acredita não sou o teu sol mas falo do meu coração «ele transformou a água em vinho» cantam no rádio «ele caminhou sobre as águas» gritam as vozes «ele transformou a água em vinho» cantam as vozes «ele caminhou sobre as águas» gritam do rádio espera-te a cruz e o deserto e a morte e o arrependimento acredita não sou o teu sol mas falo do meu coração não te levarei ao altar não erguerei a voz no púlpito não o levarei pela mão não o erguerei nos braços acredita não sou o teu sol mas falo do meu coração e a voz que se ouve diz que não
reneguei
o diabo.
RMM
segunda-feira, abril 17, 2006
Frase humana/divina: “Iguala o teu PC – reinicia-te!”
8 Comments:
um brinde à mediocridade...
não preciso do teu sol, mas quero o meu coração, para se reiniciar vezes sem conta à medida da insatisfação... talvez seja inutil renegar o teu sol, mas pela primeira vez volto a assumir o papel que me conduz a vida...
A mediocridade merece sempre um brinde ou outro - temos é de estar dispostos a brindar com ela (mesmo que, muitas vezes, seja ela a arrastar-nos para a "festa"). Obrigado, mais uma vez, pelas palavras.
beijo para ti!
Não me sinto presidiária à espera que o portão abra, não me sinto pecadora à espera da salvação, não me reiniciaria apagando memórias, no entanto, os meus ombros ainda vergam ao peso das cinzas e... acho que, de um modo tortuoso, eu gosto.
Beijo
Gostei muito deste poema, principalmente daquele crescendo que conduz a um final que é, parece-me, uma vez mais, um não-final (ou final em aberto, como se quiser; para mim ainda bem). As repetições são também importantes: não esquecer o que está para trás. Como lembra a Eye of Horus, não sei se será possível reiniciar apagando memórias. Mas será que é isso que REALMENTE se quer?!
Achei interessante o desvio dos "dias sem calendário de folhas «assinaladas e assassinadas»", se bem que sou daqueles que prefere assassinar os dias a assinalá-los.
Abraço!
Entendo perfeitamente, eyeofhorus,mas podemos não nos sentir pecadores e o sentimento de culpa estar, muitas vezes, entranhado em nós - se calhar é preciso eliminá-lo, reiniciando, ou não, o nosso sistema. Lembrei-me de ti há uns dias e da história que me contaste e ao João Nery. Estava na praia, escrevi o "nome" na areia e o mar levou-o. Ao contrário do que é costume não estava sozinho. Se calhar por isso não tive coragem de escrever o nome que queria. De todas as formas "não sou o seu sol", ela brilhará num outro firmamento, provavelmente sem mim. Mas agora sinto-me um pouco melhor, talvez seja apenas o aproximar das ondas, não sei, vamos ver.
beijo para ti
Muitas vezes não sabemos nem queremos saber o que queremos. Muitas outras vezes queremos apenas a própria negação. Pois é, João, todos os finais costumam ser sempre não-finais e o mesmo pode ser aplicado em relação aos inícios. Fora da especulação... obrigado pela crítica construtiva sobre a minha mediocridade em construção destrutiva.
abraço!
Suponho que coimbra tenha vários cemi., por isso peço um nome mais específico do local que sem dúvida seria um prazer em ir lá.
Realmente acho que há uns dois (em Coimbra cidade). Estava a falar do da Conchada que fica situado num bairro com o mesmo nome, numa rua sem saída. É fácil lá chegar. O outro (nos Olivais) é mais pequeno e não vale tanto a pena.
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