segunda-feira, abril 17, 2006


Frase humana/divina: “Iguala o teu PC – reinicia-te!”


POEMA MEDÍOCRE 12

Há uns quantos de dias
apenas
falei pela primeira vez sobre o vício, a doença,
o desvio do traço do meu demónio privado

na esplanada, esfregando os olhos ao calor como
uma outra coisa qualquer que
ali estivesse mas não

estava.

Acredita: não sou o teu sol, mas falo do meu coração.

Agora.

Que o peso da tua ausência se torna indiferenciado e
já não
me verga os ombros.

Há uns quantos de dias apenas falei
pela primeira vez
sobre o desvio do sangue e a morte
dos versos que não existem e não há cura
que
a posologia dos medicamentos
não enquadre.


Foi só.
Há.
Uns.
Quantos de dias.

Apenas a mão aberta sobre os meus ombros,
os raios sobre os meus dedos.

Acredita: não sou o teu sol, mas falo do meu coração.

Foi só há uns quantos de dias apenas falei pela primeira vez sobre a doença o desvio os dias sem calendário de folhas «assinaladas e assassinadas» a negro e a vermelho e a vermelho e a negro acredita não sou o teu sol mas falo do meu coração acredita não sou o teu sol mas falo do meu coração acredita não sou o teu sol mas falo do meu coração «ele transformou a água em vinho» cantam no rádio «ele caminhou sobre as águas» gritam as vozes «ele transformou a água em vinho» cantam as vozes «ele caminhou sobre as águas» gritam do rádio espera-te a cruz e o deserto e a morte e o arrependimento acredita não sou o teu sol mas falo do meu coração não te levarei ao altar não erguerei a voz no púlpito não o levarei pela mão não o erguerei nos braços acredita não sou o teu sol mas falo do meu coração e a voz que se ouve diz que não
reneguei

o diabo.


RMM

8 Comments:

Blogger Joana said...

um brinde à mediocridade...
não preciso do teu sol, mas quero o meu coração, para se reiniciar vezes sem conta à medida da insatisfação... talvez seja inutil renegar o teu sol, mas pela primeira vez volto a assumir o papel que me conduz a vida...

8:21 da tarde  
Blogger Black Rider said...

A mediocridade merece sempre um brinde ou outro - temos é de estar dispostos a brindar com ela (mesmo que, muitas vezes, seja ela a arrastar-nos para a "festa"). Obrigado, mais uma vez, pelas palavras.

beijo para ti!

2:03 da manhã  
Blogger EyeOfHorus said...

Não me sinto presidiária à espera que o portão abra, não me sinto pecadora à espera da salvação, não me reiniciaria apagando memórias, no entanto, os meus ombros ainda vergam ao peso das cinzas e... acho que, de um modo tortuoso, eu gosto.
Beijo

1:52 da tarde  
Anonymous Anónimo said...

Gostei muito deste poema, principalmente daquele crescendo que conduz a um final que é, parece-me, uma vez mais, um não-final (ou final em aberto, como se quiser; para mim ainda bem). As repetições são também importantes: não esquecer o que está para trás. Como lembra a Eye of Horus, não sei se será possível reiniciar apagando memórias. Mas será que é isso que REALMENTE se quer?!
Achei interessante o desvio dos "dias sem calendário de folhas «assinaladas e assassinadas»", se bem que sou daqueles que prefere assassinar os dias a assinalá-los.
Abraço!

6:11 da tarde  
Blogger Black Rider said...

Entendo perfeitamente, eyeofhorus,mas podemos não nos sentir pecadores e o sentimento de culpa estar, muitas vezes, entranhado em nós - se calhar é preciso eliminá-lo, reiniciando, ou não, o nosso sistema. Lembrei-me de ti há uns dias e da história que me contaste e ao João Nery. Estava na praia, escrevi o "nome" na areia e o mar levou-o. Ao contrário do que é costume não estava sozinho. Se calhar por isso não tive coragem de escrever o nome que queria. De todas as formas "não sou o seu sol", ela brilhará num outro firmamento, provavelmente sem mim. Mas agora sinto-me um pouco melhor, talvez seja apenas o aproximar das ondas, não sei, vamos ver.

beijo para ti

1:52 da manhã  
Blogger Black Rider said...

Muitas vezes não sabemos nem queremos saber o que queremos. Muitas outras vezes queremos apenas a própria negação. Pois é, João, todos os finais costumam ser sempre não-finais e o mesmo pode ser aplicado em relação aos inícios. Fora da especulação... obrigado pela crítica construtiva sobre a minha mediocridade em construção destrutiva.

abraço!

1:57 da manhã  
Blogger DarkViolet said...

Suponho que coimbra tenha vários cemi., por isso peço um nome mais específico do local que sem dúvida seria um prazer em ir lá.

7:52 da tarde  
Blogger Black Rider said...

Realmente acho que há uns dois (em Coimbra cidade). Estava a falar do da Conchada que fica situado num bairro com o mesmo nome, numa rua sem saída. É fácil lá chegar. O outro (nos Olivais) é mais pequeno e não vale tanto a pena.

8:37 da tarde  

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