terça-feira, maio 02, 2006




Frase: “Agora sei com quem não posso contar – contigo”.


POEMA MEDÍOCRE 14

«Morreste no meu coração»

Podia dizer A ou B ou C, mas sei
e
sinto que
hoje
nem todo o alfabeto lá chega.

O vento percorre a canalização
da casa velha e dos seus
vivos que hoje não
vivem apenas nos
retratos empoeirados por cima
dos móveis dos fatos nos seus
guarda-fatos poeirentos.

Em cada centímetro de pele a peregrinação a outro qualquer
universo desfeito,
gasoso,
líquido de ar
rarefeito.

De frente ao mar – o sonho.
De frente ao berço – o abismo.
De frente ao sonho – o mar.
De frente ao abismo – o berço.

«Morreste no meu coração» e neste poema longo
vais morrendo outra vez
aos poucos.

O vento traz o que outrora trazia:
Coros de lamentos e a vontade
de partir a pedra de David na cabeça do gigante.

Gigante?!

O vento traz o que outrora não trazia pela canalização como
dedos de crianças agarrando o coração
de um pássaro vivo.

Vivo?!

O vento traz o que outrora trouxe:
Coros de escravos nas sombras das galés em busca
de um sonho
irremediavelmente por sonhar.

Sonhar?!

O vento traz o que outrora não trouxe pela canalização como se fossem
os
braços de Shiva. (não a vês dançar?)

Dançar?!

O vento traz…
O vento há-de continuar a trazer…

Mas… «morreste no meu coração».
Irremediavelmente
RMM

4 Comments:

Blogger EyeOfHorus said...

"(...)Mas… «morreste no meu coração».
Irremediavelmente"

Sinto-me na dúvida de qual a morte que custa mais. Que custa mais lágrimas, mais dor, mais saudade, mais ausência, mais vazio cá dentro... bem no fundo do ser, naquele sítio em que poucos conseguem tocar.
A morte dói-me sempre. Odeio o adeus!
Um beijo

P.S. A foto da carta da Tower marcou-me profundamente. os meus parabéns.

12:06 da tarde  
Blogger Black Rider said...

A morte pode custar sempre muito, mas de certeza que custa sempre mais a não-vida - e é (ainda) nesta vida que temos de pagar por ela. O vazio é o nada, e o nada é todas as coisas - por isso, mesmo que caia tudo hoje, haverá sempre muita coisa para cair amanhã.
Encontrar-nos-emos ad eternum e ad finitum no «ponto de retorno do infinito». Muitas vezes são as saudades que têm saudades de nós e não nós que as temos a elas. Às vezes o mal não vem da raiz, mas manifesta-se no fruto. Mas outras vezes é a própria árvore, não obstante raiz, folha, ou fruto. Há que enfiar a «navalha até ao osso», outras coisas manifestar-se-ão, temos é de manter o coração (em) aberto para elas. Muitas vezes as coisas são-nos mostradas no início, já que primeiro vem sempre o que os olhos nos mostram. Mas nem sempre os nossos sentimentos vão de encontro ao nosso olhar e aí mentimos para nós mesmos e continuamos cegos. Mas nada que é construído sobre a areia poder-se-á manter a não ser que seja também feito de areia - mas a areia "vive" nas ampulhetas e há mesmo tempos que se esgotam.
Guardei esta TORRE para um momento especial que sabia que viria - e estava certo, já que (depois) na penumbra da luz e do candeeiro foi este o arcano que se manifestou. Mas acreditar nisto é entender o espelho e o reflexo do não-acreditar; do esvaziar lentamente, do caminhar para o não-conhecimento e para o vazio. «Sei que estou preparado para morrer, mas não sei se estou preparado para a vida".
Também odeio o "adeus" embora sinta que algo aqui possa soar a isso.

até logo!

beijo para ti!

4:37 da tarde  
Blogger DarkViolet said...

Nunca se morre, quando se sente. E basta o eco fazer soar-se nas profundezas de cada pessoa e a vida retorna. O que não me impede de dizer que a vida é a morte, e a morte é a vida..provavelmente é contraditório :)

10:18 da manhã  
Blogger Black Rider said...

Às vezes quero acreditar que sim, Darkviolet, outras vezes quero acreditar que não. Mas por mais que queira há sempre coisas que morrem - mesmo que seja para nascer outra vez. Mas mesmo quando nascem (ou renascem), por mais similares que elas nos pareçam, surgem sempre com outras formas, nem sempre facilmente reconhecíveis. «A serpente engole a cauda e transforma-se noutra coisa, mas nunca é a mesma serpente".
Sentir sente-se sempre, mesmo quando não se sente nada também se sente um sentimento (ou deriva, na maior parte dos casos, de um). Não entendo a morte e a vida como opostos - já que todas as coisas tendem à unidade - utilize-se que retórica for. Tal como tu dizes: "a vida é a morte e vice-versa". É preciso sabermos escutar a voz desse mesmo eco para depois do "remorrer" começarmos a "reviver". Mas...

Reviver o ainda não vivido.

abraço

12:40 da manhã  

Enviar um comentário

<< Home

-->
Links
AINDA NÃO ME DEI AO TRABALHO DE ORDENAR ALFABETICAMENTE (AZAR!)