segunda-feira, março 07, 2005

Frase do dia: "Vou sentir BASTANTE a tua falta".


Há uns dias atrás, durante os meus trabalhos atabalhoados para o mestrado, no Colégio Islâmico de Palmela, tive a oportunidade de ter uma conversa interessante, mas também em tons de recolha de informação, com um dos monitores do ensino religioso. Este jovem homem, de sorriso simpático e afável, que responde pelo nome Zuber, contou-me, então, algumas histórias de âmbito religioso que achei bastante interessantes e com o seu quê de ensinamento- não esquecendo, obviamente, que em toda a interpretação está sempre subjacente o espírito da dúvida e do questionar-sendo nestes principais aspectos que se tende a procurar uma qualquer luz que incida sobre os azulejos de mármore sob a sombra, ou sobre os vitrais dos fragmentos das cores do desconhecimento.
A história, que aqui faço destaque, tem como principal protagonista um homem que era bastante crente e devoto a Deus- entendido como absoluto, único e incomparável com o que quer que fosse. No entanto, sendo sempre um humano, também ele estava sujeito à admiração e a uma certa inveja.
Chegou aos ouvidos deste homem que um outro, também ele um fervoroso devoto, havia estado três dias seguidos prostrado, em oração contínua para com Deus. Este facto, além da admiração, causou uma certa inveja ao nosso protagonista, pois também ele gostaria de estar três dias em oração contínua-sinal de que o seu amor para com Deus poderia ser ainda maior. Intrigado com este aspecto logo tratou de procurar o outro, para que ele lhe mostrasse qual o segredo para estar assim tanto tempo em oração.
Assim que o encontrou, sempre com essa dúvida a assaltar-lhe o seu âmago, logo tratou de lhe fazer essa mesma pergunta. O outro sorriu-lhe, calmamente, dizendo que tal era bastante fácil e simples e que, logo, também ele iria conseguir estar esses três dias em oração contínua. Para tal bastava apenas que ele cometesse um pecado.Um simples pecado. Tal resposta intrigou o nosso protagonista. Pecar, no que quer que fosse, era algo que nunca sequer lhe tinha passado pela cabeça. No entanto, seduzido pelos argumentos do outro- de que do arrependimento cresceria uma maior devoção- essa ideia de cometer um pecado começou a ganhar contornos de alguma racionalidade lógica. No entanto, e de todas as formas, a dúvida parecia querer persistir: mas que pecado cometeria ele? Foi então que o outro lhe sugeriu que matasse alguém,, pois o atentar contra uma criatura que Deus criara seria um pecado suficientemente grandioso para que o seu arrependimento fosse bastante grande. O nosso protagonista irritou-se com esta sugestão. Matar alguém?! Não! Nunca! Jamais! Sendo assim, com esta veemente negação, o outro sugeriu-lhe, já que ele não queria matar ninguém, que dormisse com uma mulher casada. Mais uma vez o nosso protagonista se irritou com a sugestão. Cometer o pecado do adultério e da fornicação com uma mulher que não era a sua!? Isso era uma ideia que nunca sequer lhe passaria pela cabeça. Não! Nunca! Jamais! Foi então que, já algo cansado, o outro lhe sugeriu que fosse até à taberna e bebesse um copo de vinho. Embora condenável, o álcool seria um dos chamados pecados menores. Algo hesitante, o nosso protagonista aceitou esta ideia. Afinal qual seria o problema? Um copito de vinho seria sem dúvida um pecado, mas era daqueles que não causaria mal a ninguém ou a terceiros. Depois, quando estivesse bastante arrependido, também ele conseguria estar três dias seguidos em oração e a pedir desculpas a Deus.
Com este pensamento na cabeça entrou na taberna, sítio no qual nunca entrara, e pediu um copo de vinho, bebida que nunca antes provara. Ora, não estando o seu organismo familiarizado com o álcool os efeitos de tal bebida no nosso protagonista foram bastante intensos. Saiu da taberna bastante bêbedo e a cambalear. Enquanto cambaleava pelas ruas reparou numa mulher que o a.atraía bastante e logo tratou de a seguir até casa. Entrou na casa da mulher e logo que pôde atirou-se a ela movido por puro desejo carnal. Passado algum tempo entrou em casa o marido dessa mesma mulher. Ao ver este desconhecido que o olhava com olhos de pura raiva e ódio o nosso protagonista assustou-se e teve medo. Ora, sendo o medo um dos principais dinamizadores de muitos dos actos humanos, ele não esteve com meias medidas. Matou o homem.

Achei esta história com o seu quê de interesse, embora não queira levar a minha interpretação para os aspectos moralizantes. Apenas me fez lembrar que, muitas vezes, não existe qualquer tipo de mal menor. Tudo é consequência de qualquer coisa, muitas vezes não sabemos onde começou ou quando vai acabar essa mesma bola de neve. Por isso não existe nenhum mal menor. Quando fazemos essa escolha já estamos a perder. É óbvio que o mundo é mais cinzento do que preto ou branco, mas também é verdade que todas as cores que existem no mundo foram apenas feitas para colorir as nossas vidas, não para as pintarmos de sombras.
Seja lá o que isto signifique.
Porque eu não sei.


RMM

2 Comments:

Anonymous Anónimo said...

Claro que contas comigo sempre apara te ler num folego..., primeiro leio-te sempre na diagonal e depois fico calmamente a sorver as tuas palavras e que gozo isso me dá.
Boa semana
Jokas boas

3:04 da manhã  
Blogger Unromance said...

Nunca tinha ouvido essa historia e tens toda a razao quando dizes que quando "fazemos essa escolha" perdemos. Acabado de ler o post a minha cabeça fez "que sim" tres ou quatro vezes.. Tens razao. Beijo*

2:36 da tarde  

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