segunda-feira, maio 16, 2005

Frase do dia: “Por maior que seja a tua folha ela nunca vai ter espaço suficiente para a minha palavra”.

Tu pensas no escorpião eu penso no sangue na navalha por cima dos despojos da televisão as histórias de finais felizes é pena mas não acredito que este pulsar do silêncio traga as palavras por dizer quando seriam apenas os gestos a encerrar a queda e a encenar o voo e a vertigem do anjo na parede pintado no meio das suásticas minha querida e linda amiga querida amiga linda tu nunca soubeste ver para além das máscaras dançamos a valsa dos esqueletos no palco das bruxas anorécticas pois a obesidade não tem no amor o seu maior aliado nem na morte o seu maior trunfo no começo de um século promíscuo a viragem na casa dos trinta igual à derrapagem do carro sobre a estrada repleta de vísceras festim de chacais festa de abutres abafam o chafurdar do anjo sobre o sangue no levantar do voo aprisionado na parede pintado no meio das suásticas tu pensas no escorpião eu penso no sangue na navalha armários repletos de esqueletos espelhos repletos de máscaras minha querida e linda amiga querida amiga linda tu nunca soubeste ver o homem para além da carne o outro espelho para além da outra máscara tu pensas no escorpião eu penso no sangue na navalha as palavras não encerram os gestos não comprometem a urgência do voo adiado de anjo aprisionado na parede pintado no meio das suásticas.


RMM

4 Comments:

Blogger nocturnidade said...

um nada a (h)a-ver que para mim faz todo o sentido,
lembrei-me do sangue no asfalto dos mãos morta.
e calei-me.

5:50 da tarde  
Blogger Black Rider said...

sim, entendo que algo neste texto te sugira essa letra dos Mão Morta, banda de que gosto bastante. Certos autores que influenciaram o Adolfo Luxúria Canibal também me influenciaram a mim- Lautréamont, Heiner Muller, Breton, Guy Débord. Por acaso conheço a baixista dos Mão Morta, a Joana, ela também é cá de Coimbra.
aparece sempre.

11:05 da tarde  
Anonymous Anónimo said...

um dos melhores textos que li nos últimos tempos...talvez porque li para além das palavras. de facto, não há papel suficiente para o sangue na navalha. de que cor é o sangue de um anjo degolado???

11:41 da tarde  
Blogger Black Rider said...

Obrigado, Cláudia, e, sim, é verdade, só se lê verdadeiramente quando se lê para além das palavras. Talvez não seja só a folha de papel que não seja suficiente, talvez as palavras, elas mesmo, já não sejam suficientes ou já não tenham lugar nesta ou noutra folha, não obstante o escorpião, não obstante o sangue na navalha. De que cor é o sangue do anjo ou de que cor é o próprio voo?
De que cor é o teu sangue?

12:54 da manhã  

Enviar um comentário

<< Home

-->
Links
AINDA NÃO ME DEI AO TRABALHO DE ORDENAR ALFABETICAMENTE (AZAR!)