Frase da maldição enterrada nas letras: “Pela obsessão, pela paranóia, mas simplesmente pela loucura, estás-te a transformar naquilo que escreves”.
Noite de Absurdo Noite de Estranho Noite de Vago
Noite de Absurdo Noite de Estranho Noite de Vago
para além do sonho daquele que não dorme procurando as setas no coração dos envenenados cães que bebiam junto ao rio tornou-se perplexo e tudo volta a transformar-se em sombras que iluminam o cadáver dançante do existir
longe de ti para sempre e nunca mais
Noite de Absurdo Noite de Estranho Noite de Vago
os dilemas que terminam nas mãos que não se tocarão outra vez o limbo gera a luz a criança os seus passos perdidos transformam-se ao passar pelo túnel deste existir
Noite de Absurdo Noite de Estranho Noite de Vago
para além do sonho daquele que não dorme disparando as setas ao coração dos envenenados cães que uivavam junto à ponte de madeira tornou-se perplexo e tudo volta a permanecer nas sombras que apagam o cadáver cantante do viver
longe de ti para sempre e nunca mais.
RMM
(um velho poema sem amor nem glória)
LETRAS DE UMA SÓ PALAVRA
“Vês, Mimi: a morte, a dor, não nasce limpeza mesmo que os cadáveres estejam limpos próprio, higiénicos e bonitos, como tu soluças. Cá estou eu a te levantar a saia, miúdo ordinário que me xingavas, e a culpa não é tua, não é minha, não é de ninguém: é de todos nós que deixamos nascer jacarés na água pura”.
José Luandino Vieira, Nós, os do Makulusu
José Luandino Vieira, Nós, os do Makulusu
6 Comments:
Estou tão cansada... não consigo falar-te do teu post, hoje, porque é demasiado forte, tem tanto que se lhe diga...
Deixo um beijo e um até amanhã!
Até amanhã então! E bom descanso!
Todos os que atingem um elevado nível na sua linguagem artística, sejam pintores, escultores, músicos, escritores; ou nas suas ideias, como os filósofos, perdem a consciência da sua arte e das suas ideias. Ficam com uma concepção diletante, ficam toda a vida presos a esse diletantismo. Não têm mais uma verdadeira noção da sua arte ou das suas ideias. Era o que dizia o maior pianista de todos os tempos - Glenn Gould. Nureyev também sentiu o mesmo, expressou-o de forma mais tosca (mas no fundo igual). Artaud, um hiper-lúcido, foi um pouco mais longe, fez a analogia entre a arte e a morte; o teatro e a peste. Mas também ele se perdeu no veneno da sua perfeição de artista.
A obsessão, a paranóia e a loucura; o cadáver dançante, são a mente e o corpo de alguém que passou para lá da linha e conhece o caminho perigoso, de ser e criar (quantas vezes só por SER).
Estava a tentar dizer isto, ontem, mas não fui capaz, porque é complexo... e continua pouco consistente, apesar de eu já ter descansado!
Mas não é uma ideia minha, apenas me lembrei disto assim que li este post - muito belo - e andei a ler, em busca de palavras que, melhor que as minhas, o exprimissem. Estes três que citei são os que o meu coração escolheu, acompanham-me desde criança. Todos geniais. Todos "longe de alguém para sempre e nunca mais". Todos lidaram com o Absurdo e o Vago, com túneis e cadáveres lavados e por lavar.
O teu sentimento é um pouco o de um "crescido"... a solidão.
Desculpa a ousadia de te dizer semelhante coisa!
Um beijo
Há um Post Scriptum. Mas não se te aplica, dito por mim. Tem outro destinatário, que é esquivo e eu não consigo chegar à palavra com ele!
Engraçado... ainda ontem falava algo parecido com um amigo. Isso, ou isto, da solidão. Talvez, mas não é bem esse tipo de solidão. É a do ser-se solitário que é algo diferente do ser-se só ou do SER (ou do SENDO) sozinho. A solidão reclama sempre os seus espaços, mas isso não implica que não exista solidariedade. Li algo semelhante num conto do Camus, falava sobre um pintor que se fartou e se refugiou... no sótão da sua própria casa, num lugar onde só tinha acesso através de uma escada de mão. Solitário e solidário, aliás, sempre me soaram a palavras irmãs. Mas isto está, e vive-se, num nível muito mais profundo do que as palavras. Elas próprias não a alcançam, mas muito e muito menos os silêncios as albergam. Solitário, mas solidário para os outros. Muito mais do que para si próprio. Mas o espaço da incompreensão (de si para si ou de si para os outros) é enorme de todas as formas. A arte ou o artista não se podem autoconsumir e, muitas vezes, o diletantismo é apenas a máscara dessas fraquezas e de toda e qualquer impossibilidade de fuga. Começou há muitos e muitos anos,instalou-se como um vírus, não é um projecto concebido, pensado, ou bebido nas letras ou nas imagens deste ou daquele, não sei.
Compreendo e entendo (pouco, mas entendo) algo de algumas das pessoas que citaste, a quem lhes deram este ou aquele nome. A arte a um certo nível, o único que ainda entendo (por isso é que não sou artista), é sempre a que ultrapassa o criador, mesmo sentindo que esse edifício se há-de desabar sobre o mesmo- soterrado entre os seus escombros. Com que fica o artista? Com nada, quanto muito essa tentativa de explicar uma coisa que nem ele compreende. Daí o diletantismo que encerra, daí o pedantismo boçalizante. Quanto muito... isso. Quanto nada... apenas e só o nada.
Penso que entendo um pouco da dor do Lautréamont se soubesse que iria morrer aos 24 anos sem ter alcançado a glória que almejava. Penso que entendo a dor do Stig Dagerman quando se suicidou ao tomar consciência de que, mesmo com toda a glória literária que tinha, a sua "necessidade de consolo era impossível de satisfazer". Entendo ou penso que entendo. Porque é apenas a dor, presente e que se pressente nos nomes dos que se conhecem, mas igual e tão irremediavelmente igual à dor de todos os anónimos, encerrados nas gavetas mortuárias dos despojos, os quais a história não reconhece.
Iguais na dor e no fundo a mesma dor no fundo iguais.
É engraçado e algo bizarro pensar que os "cadáveres" são bem melhores dançarinos do que muitos vivos que aí andam. Mas isto já é divagação vaga.
Não tens que me pedir desculpa pela ousadia, aprendo e apreendo bastante com aquilo que aqui me deixas.
Espero que o teu destinatário esquivo também consiga chegar às tuas palavras.
gostei muito deste post. eu gosto da loucura. essa loucura, paranoia que fazem viver.
É verdade Rita, mas,às vezes, poderia ser melhor se elas não gostassem tanto de nós. De todas as formas, não creio que, também, sem elas pudesse alguma vez existir qualquer tipo de VIDA. Pelo menos, eu, nunca senti as coisas de outra forma.
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