segunda-feira, agosto 29, 2005

Frase enquanto caminhávamos para o mar:”Não sei se essa única lágrima tornou o oceano muito mais salgado; mas sinto que foi ela que inundou a praia”.

POEMAS DA MINHA VIDINHA

«Cântico Negro»

Cago na juventude e na contestação
e também me cago em Jean-Luc Godard.
Minha alma é um gabinete secreto
e murado à prova de som
e de Mao-Tsé-Tung. Pelas paredes
nem uma só gravura de Lichtenstein
ou Warhol. Nas prateleiras
entre livros bafientos e descoloridos
não encontrareis decerto os nomes
de Marcuse e Cohn-Bendit. Nebulosos
volumes de qualquer filósofo
maldito, vários poetas graves
e solenes, recrutados entre chineses
do período T´ang, isabelinos,
arcaicos, renascentistas, protonotários
- esses abundam. De pop apenas
o saltar da rolha na garrafa
de verdasco. Porque eu teimo,
recuso e não alinho. Sou só.
Não parcialmente, mas rigorosamente
só, anomalia desértica em plena leiva.
Não entro na forma, não acerto o passo,
não submeto a dureza agreste do que escrevo
ao sabor da maioria. Prefiro as minorias.
De alguns. De poucos. De um só se necessário
for. Tenho esperança porém; um dia
compreendereis o significado profundo da minha
originalidade: I am really the Underground.

Rui Knopfli, o passo trocado

6 Comments:

Anonymous Anónimo said...

Grande Poema. Só não gosto dos últimos 2 versos, aquela coisa batida do "um dia alguém vai Compreender". Um dia ninguém vai compreender nada!. De resto é lindo "Cago na juventude e na contestação
e também me cago em Jean-Luc Godard."
É de um gajo que já viveu alguma coisa

1:14 da tarde  
Blogger Black Rider said...

É verdade, Paulo. Um dia eles vão é compreender ainda menos.

abraço

1:56 da tarde  
Blogger Monalisa said...

Gostei disto. Beijo

10:55 da tarde  
Blogger Black Rider said...

Outro beijo para ti, Monalisa.

12:15 da manhã  
Anonymous Anónimo said...

Oi, passei por aqui e...
era só para dizer que este poema é realmente lindo! E hoje.. 8-03-2006 declamei este poema com o mais profundo que tenho em mim!!
Um beijo de.. Macau - China

Ps: Ao publicares este poema mostra que algum sangue ainda te corre nas veias e que há coração para compreender o incompreensivel
=D Beijinhos, Sara

1:04 da tarde  
Blogger Black Rider said...

Obrigado, Sara. E tenho mesmo pena de não ter podido ouvir. Mas sinto que ecoa cá dentro.

1 beijo para ti e obrigado pela visita

5:33 da tarde  

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