quinta-feira, maio 11, 2006


Frase dos outros: “Achas que isso só acontece a ti?”.

DIÁLOGO ABSURDO-IDIOTA 3

Fonte: Coimbra, discoteca Via Latina, Março de 2006

O “vosso” bloguista RMM, aka Black Rider, entra no WC local e dirige-se aos urinóis. Os mesmos ditos do referido espaço consistem num fosso de metal com uma lotação para quatro indivíduos (cinco se todos se encostarem uns aos outros… pois, não é lá muito agradável). Estando, quer o canto esquerdo, quer o canto direito ocupados, resolve ocupar o lugar central do dito urinol comunitário. Ainda durante o acto de desapertar as calças repara que o indivíduo ao seu lado direito – rapaz na casa dos vinte e poucos, t-shirt vermelha, cabelo rapado – desviara os olhos na sua direcção, mais precisamente para a direcção das suas zonas baixas. Sendo a necessidade mais imperiosa do que outra qualquer consideração, RMM resolve dar prosseguimento ao acto mijatório. Repara, de soslaio, que o rapaz de vinte e poucos, t-shirt vermelha, cabeça rapada, continua a olhar sistematicamente para o seu baixo-ventre – embora o vosso bloguista já se encontre em pleno acto. O rapaz resolve partir o silêncio salpicado pelas gotas de urina sobre a latrina colectiva.
- Hey!! – interpela o rapaz, olhando para RMM que finge não ter ouvido.
- Hey!! – insiste o rapaz na sua tentativa de comunicação.
- Hey!! – continua o dito cujo.
Neste momento, RMM resolve indagar o porquê de tanta insistência.
- Sim!?
- Hey!! – continua o rapaz – Isso é ouro? – mas sempre a olhar para a zona genital de RMM.
- O quê? – pergunta RMM sem perceber a pergunta.
- Isso é ouro? – insiste o jovem.
RMM olha para a frente mas, óbvio, a única coisa que vislumbra são as suas próprias mãos segurando o instrumento reprodutivo-urinário que, nesse preciso momento, se encontra em pleno acto de cumprir a sua segunda missão – isto é, verter urina.
- Se isso é ouro? – continua a insistir o rapaz sem nunca despegar os olhos das partes baixas de RMM.
- O quê? – pergunta o vosso algo atónito bloguista.
- Os anéis.
- !!?? Não. São de prata.


«Estacionei o carro, acendi o vigésimo terceiro cigarro do dia e coloquei a mão direita dentro das suas calças. Ela tentava sintonizar o rádio, nenhuma estação lhe agradava e não havia grande vontade de ir para mais lado algum. A mão deslizou até ao rabo. Ela sintonizou numa qualquer estação que debitava James Blunt (??!!). O fumo saía pela janela entreaberta, sem conseguir ferir uma noite que já não era nossa. Não se via a lua, apenas a luz dos candeeiros iluminava uma rua sem saída. Olhando para cima, pelo vidro do Peugeot amassado, podia-se vislumbrar uma ténue luz acesa de um qualquer apartamento daquele prédio. Daquele prédio. Daquele enorme prédio que nos tapava toda e qualquer vista. A mão continuava dentro das suas calças, dedos frios sobre as suas nádegas. Mas algo ali já não era nosso, muito menos nós o seríamos tampouco. Um pensamento demasiado longe, demasiado perto, acabara a música tal como o cigarro se apagara. Ainda pairava o odor a fumo… de uma certa forma, pela impossibilidade de escolhermos a nossa vida acabamos, inconscientemente, por escolher os retratos para tantas e tantas mortes. Ela procurou outra estação.
Pensava eu em quê? Dias atrás tinha estado com um amigo no café – a pessoa mais inteligente que conheci – e tive a sensação de que mais nada havia para dizer um ao outro. Senti isso. Senti isso no fim. Senti isso ao apertar-lhe as mãos. Ele iria continuar a sua carreira de sucesso, casar, ter filhos… Pensava eu em sabe-se lá o quê.
Olhei para ela. A minha mão continuava dentro das suas calças, os dedos de encontro às nádegas. Pensaria (talvez) ela que o rádio lhe trouxesse as canções antigas? Desejaria ela realmente que assim fosse? Pensava eu em quê? Eu?! Em nada. Que não se deve esperar nada quando se sabe que a solução pode estar no não ter esperança. Olhei para ela. Os seus olhos vibrantes a trespassarem o vidro do Peugeot amassado, toda a sua vida pela frente… ela não estava ali. E eu? Será que estava? Não a amava, é certo, se é que isso importa… Provavelmente… nada. Os dois ali. Ela à procura de uma estação. Eu à procura de calar a música. Os dois ali. A mão dentro das suas calças… A mão junto às nádegas antes de ela dizer: “Não mas alargues. São novas”.»
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2 Comments:

Blogger The Poisonous I said...

A Estação da Morte sintoniza-se facilmente. Seria, ainda assim, essa a que ela desejava sintonizar?! Há canções antigas que se podem não voltam a ouvir... mas, também, umas valem a pena, outras nem tanto! O que é preciso é recordar com carinho aquelas que valem realmente a pena.
Há, de facto, uma diferença entre estar com uma pessoa e «estar» com uma pessoa! Nisso, os Ingleses são bem mais precisos do que nós: têm o verbo 'to be', que significa, duplamente, 'ser' e 'estar'.
Gosto do sentimento de perda e abandono que caracteriza este teu texto (o segundo,claro, se bem que, pensando melhor, também o primeiro poderia sugerir alguma perda - espero, no entanto, que o tipo não não te tenha ficado com os anéis!!!).

Abraço!

P. S. Para a próxima diz-lhe que as calças novas são para ser usadas!!

P. P. S. As pessoas solitárias são muito interessantes...

12:43 da tarde  
Blogger Klatuu o embuçado said...

As calças, certo? As nádegas... duvido muito!

2:46 da tarde  

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