quarta-feira, julho 13, 2005

Frase de frente para os edifícios: “Caiam!”

NOTAS AVULSAS

Ontem, depois de “corrido” da embaixada cabo-verdiana, indo parar, sucessivamente, à Avenida da Liberdade, tendo de voltar atrás à procura da Universidade Internacional, perguntando às cegas e salvo por uma jovem moça solidária, reencontrei o meu eterno orientador de mestrado e saímos de ao pé do Jardim Zoológico e fomos parar a um centro de detenção de menores. Percorremos a Crel, entre batidas de “encostas”, para vermos um grupo de suecos numa demonstração de capoeira com os jovens cabo-verdianos reclusos, pouco antes de estarmos trancados numa sala com uma das coordenadoras do centro, uma professora romena e uma jovem assistente. Esperámos que chamassem o jovem romeno cigano de 13 anos, detido por furtos vários e etc. tal, para que lhe traduzissem nas palavras tudo aquilo que já estava bem escrito nos gestos.
No fim das histórias intermináveis, de um BÊ-Á-BÁ mais do que sabido, percorri a mesma Avenida da Liberdade (?!) preso ao objectivo de encontrar uma ONG entre tantas e tantas casas.
Às tantas cansei-me e fui matar o vício na boca do diabo atirando-me nos lençóis do meu inferno privado.
Regressei ao porto de eterno embarque com as palavras de um taxista de Góis que me fez ver que, a exemplo de muitas pessoas, também há rios que correm para o norte. Eu disse-lhe que já por lá estivera, em trabalho, algures metido nas águas com um breve amor (!?) sem significado, mas que, tal como o rio, as águas passam, as águas passam. Ele riu-se e perguntou como é que eu estaria com a idade dele. Eu ri-me, brincando, e disse-lhe: rijo! Ele riu-se, continuou falando da luta das pessoas para conquistarem a terra aos montes num velho orgulho beirão, resistente ao trânsito da capital, preso ao desejo de voltar mas sem ser prisioneiro de mais ninguém além da mulher a quem aflige a ideia.
Regressei desmaiando de sono, preferindo Nietzsche às barbaridades dos jornais e ao fim da esperança europeia, perdida em páginas e páginas de letras apagadas, ou ao estado da nação, perda de esperança, nas suas doses regurgitadas de irracionalidade diária.
Nota- todas as pessoas gostam de crianças porque elas são inocentes e o mundo é que é mau, muito mau, e não há volta a dar-lhe.

Nota- a assistente portuguesa da professora romena é das mulheres mais bonitas que alguma vez vi em vida (?!) e a beleza pode ferir de tal forma que, muitas vezes, torna-se difícil encará-la de frente nos olhos.

Nota- a fertilidade da vida pode tornar-se tão danosa quanto o seu lado estéril.

Nota- amanhã volto aí e, se puder e se tu, também, puderes, dou-te um toque para um café.
Nota- preciso de cafeína.
Nota- preciso de ti.
Nota- sem açúcar.

5 Comments:

Blogger Bernardo said...

pah, tu escreves mesmo bem. a serio! é um prazer ler estas notas do quotidiano, redigidas de um modo tão bom e original. Se ainda não és um profissional, devias dedicar-te a escrever qualquer coisa a sério (livros, argumentos,...)
abraço

11:20 da tarde  
Blogger Black Rider said...

Obrigado, Bernardo. Talvez um dia resolva seguir o teu conselho.

abraço!

2:58 da manhã  
Blogger Rita Delille said...

o nosso mundo é mau: o humano, entenda-se. a maldade é a humana, a pensada, a maquinada. Somos nós que amamos de dia e matamos de noite por esse mesmo amor. por acaso na peça que vi hoje, o zé, este é um assunto muito bem tratado.
Quanto a escrever um livro não acho que isso tenha, infelizmente, a ver c escrever bem. senão vejamos o exemplo dessa bela romancista que é a margarida r. pinto. e, para além deste icon da má literatura portuguesa há outros.
mas eu gosto. gosto daquilo q escreves.

5:15 da manhã  
Blogger Black Rider said...

É verdade, Rita, a maldade é humana, por mais que se disfarce de máquina, dilacera de todas as formas. Matar e morrer por amor são apenas expressões que remetem para o seu fim. Não é preciso matar ou morrer por amor para que, no fim, ele não acabe, também, por morrer. Mas espero um dia vir-me a enganar nisto que escrevo, e/ou me façam sentir a inexistência de todo este erro. De certeza que, mal me surja uma oportunidade, hei-de ir ver a peça ao Museu dos Transportes- li hoje no Público algumas cenas sobre ela e está-me a parecer bastante interessante.
Tens razão quanto aos bons exemplos das Margaridas rebelos e demais- mas a verdade é que eles existem porque há muita gente que os lê e se identifica com o que escrevem. Não deixa de ser um profundo exemplo da "nossa" sociedade portuguesa. Ou da, dita, "maioria" leitora- que não é mais do que uma enorme minoria num país em que quase ninguém lê.
Fico feliz por gostares daquilo que aqui vou deixando. Também gosto da forma como escreves e, por isso, gosto que por aqui vás passando. Isto agora estava um pouco a rimar, mas não ligues... de vez em quando é preciso.

6:23 da tarde  
Blogger amok_she said...

...e eu(!) "não gosto" do q escreves... pq me obrigas a voltar à realidade... q prefiro ignorar... esquecer...matar!

...mas, não(!) consigo deixar de ler(te)...raios!!!


[beijo]

11:52 da tarde  

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