quarta-feira, julho 06, 2005

Frase para um velho início: “Para quando um novo fim que valha a pena?”


Velhos válidos inválidos novos não escreverei mais nada depois do que nunca hei-de escrever mais nada se cada poema apenas respira as palavras do adeus na despedida do até logo à minha cidade: nunca soubeste ser mãe eu nunca soube ser filho do teu ventre roído de pai anónimo incógnito inexistente o brilho sobre a fachada dos prédios novos sob as sombras de quem não tem mais nada a perder a inutilidade inútil de tudo isto mascarada de utilidade útil aos velhos válidos e aos inválidos novos esperam o canto de um autor que não existe aqui por mais que tu queiras não escaparás impune aos demónios que saltam da tua cabeça agora que a gaveta está cheia dos mesmos anjos iguais e falsos despidos dos homens todos que se mataram nas tuas mãos esperas o rasgo adiado do grito preso na garganta mas este é o espaço vazio e não sentirás as forças de um braço no teu corpo sem corpo em memória dos velhos válidos inválidos novos não consegues fugir à frustração de não ter para onde fugir se é sempre verdade que é no fim que o rouxinol canta mais alto aos velhos válidos inválidos novos é madrugada e tu escreves na madrugada como quem sela as cartas do adeus para o dia seguinte num eterno e adiado até logo.

RMM






1 Comments:

Blogger Fata Morgana said...

"é no fim que o rouxinol canta mais alto", porque é nessa altura que ele chora por dentro e o canto húmido é sempre mais fluido, mais doce e pungente. O teu texto também é pungente!

Li uma coisa que aqui não está. Não pude comentar, porque gostei muito e às vezes fico sem palavras, não há nenhumas que me sirvam.
Os Árabes têm no olhar uma coisa única, talvez por conterem desertos, por fitarem desertos, a perder de vista. E miragens, também.

(que estranho, agora que não está aqui, consegui dizer quase tudo).

Um beijo grande

1:00 da manhã  

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