domingo, setembro 30, 2007





POEMA MEDÍOCRE 24

Fora de nós – nós fora nós noves fora nada.

Nada. Lembra-te. Nada. Esquece-te. Nada.

Dizem, eles, não voltes, nunca voltes, nunca voltes nunca,

aos sítios onde foste feliz não voltes, não voltes mais, não voltes nunca.

Mas, justamente, injustamente, voltas…

aos sítios onde nunca antes feliz o foras.

Onde nunca antes feliz. O…

Fora de nós – nós fora nós noves fora nada.

Nove anos.

Menos. Dois. Igual. A sete.

Menos dois igual a sete.

Nós fora de nós – nós fora nós noves fora nada.

Igual a dois.
Menos.
Dois.

Igual a sete igual a sete igual a sete igual a sete igual a sete igual a sete igual a sete.

RMM



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quinta-feira, setembro 20, 2007


O corpo. Magnífico desafio do teatro dos limites, métrico movimento arrebatado em turbilhões de luzes suspensas, e a densa voz pulmonar de um homem a gelar uma sala. Esse mesmo corpo ceifado à crueza chã da malícia, da massagem, do intemporal ciúme da pele. (Convences-te entre parêntesis onde arrecadas razões, estilhaços, incontáveis becos sem saída. Duvidas, Bárbara? De que duvidas? Percebes agora que não percebes o que nunca percebeste. É a tua casa, o tabaco da noite na roupa que chega, a alma fria dos pés, voláteis lembranças de esperma. Sobram-te peças no teu catálogo de misérias inconsequentes, mas não é a evidência que te paralisa. É o inimaginável estar tão perto.) Deixa um cheiro novo no corpo que o outro estranha. Perscruta. Sublima. Oferece com requinte ao banquete corrosivo das feras de um amor visceral, de uma felicidade cancerígena. Num campo de batalha amanhecido argumenta-se ainda como se a insanidade putrefacta não fosse já cada palavra, e cada palavra já nem nada de si mesma. Não são os olhos que não vêem, nem a mente que não tolera. É o corpo que não sabe.

(…)

Que anonimato é este em que toda a gente te conhece e ninguém sabe o teu nome?

Miguel Ramalho Santos, auto

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NAMORADOS DA CIDADE
Namorados de Lisboa,
à beira Tejo assentados,
a dormir na Madragoa.
Namorados de Lisboa,
num mirante deslumbrados,
à beira verde acordados.
Namorados de Lisboa,
ao Domingo uma cerveja,
uma pevide salgada,
uma boca que se beija
e que nos sabe a cereja,
a miséria adocicada,
à beira parque plantada.
Namorados de Lisboa,
sempre, sempre apaixonados,
mesmo que a tristeza doa,
namorados de Lisboa.
Namorados de Lisboa,
na cadeira dum cinema,
onde as mãos andam à toa,
à procura de um poema,
namorados de Lisboa,
que o mistério não desvenda
até que o escuro se acenda.
Namorados de Lisboa,
a apertar num vão de escada
o prazer que nos magoa
e depois não sabe a nada.
Namorados de Lisboa,
a morar num vão de escada.
Namorados de Lisboa,
sempre, sempre apaixonados,
mesmo que a tristeza doa,
namorados de Lisboa.
Ary dos Santos, Fernando Tordo, Carlos do Camo

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domingo, setembro 16, 2007


A felicidade e a ruína.

Tanto as pessoas tontas como as sensatas são inofensivas. Pelo contrário, os meio-tontos, meio-sensatos, esses são perigosíssimos.

Goethe

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quarta-feira, setembro 05, 2007

O vento, o diabo, o flautista louco.

POEMA MEDÍOCRE 23

Café Tropical, calor de café e fino
morno.

Aquecem as horas.

Uma gaja qualquer abana
um lenço sobre as mamas,
enxota
as moscas agora.

Pasmo, sóbrio, escreves sozinho entre-as-paredes.

E nas paredes,
quadros como quartos, cigarros de tontos.

És um imbecil, não te esqueças.

Paredes vazias, o rosto familiar de coisa alguma
não o lembrarei no meu quarto, “o teu quadro na parede que se
foda! Que se foda o teu quadro na parede!”

Acenas a um rosto que passa sem passar, tropeças nas escadas.

Procuras ser escrito,

lá fora enxotas as
moscas
sobre as mamas.

As moscas.
Sobre.
As mamas.

As moscas sobre as mamas.

Lá fora…

enxotas as moscas sobre as mamas.
RMM

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terça-feira, setembro 04, 2007


Eu fiquei rico com a chantagem. Se você observar bem, chantagem não devia ser crime. Porque, se você está chantageando alguém, é porque este alguém está fazendo algo de errado. Impossível fazer chantagem com quem só age certo, certo? Tudo começou quando eu descobri que podia ganhar dinheiro fazendo chantagem com as pessoas. Insisto: não acho a chantagem nem crime, nem contravenção, nem nada ilícito. O chantageado é que é o agressor da sociedade. Minha função sempre foi descobrir as pessoas certas para chantagear.

Mário Prata, James Lins o playboy que não deu certo

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AINDA NÃO ME DEI AO TRABALHO DE ORDENAR ALFABETICAMENTE (AZAR!)