quinta-feira, junho 30, 2005

Frase já antiga: “Da pedra fica apenas o pó, do fogo as cinzas, da gaivota a pena, de deus a espada do anjo que cai, da infância o baloiço, dos beijos o sabor amargo quando o doce te morreu nas veias, do mar a lembrança do amanhã, de tudo há sempre alguma coisa que fica, mas das palavras já não fica nada”.
LETRAS DE UMA SÓ PALAVRA
“O traído sempre diz: não deviam ter feito isto comigo e logo agora. Mas é agora mesmo, a hora da traição. E quem mais haveria de te trair além daquele que te jura fidelidade e ao teu lado vive? O viúvo desconsolado ao lado do cadáver da esposa, diz: tão cedo partiste meu amor. Mas o destino é que faz a hora, e toda a hora é hora para partir, para chegar, para nascer e morrer. Para amar e odiar. Para matar e criar. Ser traído amanhã, é viver mais um dia de ilusão. É melhor que a traição seja hoje para que a lealdade seja amanhã. O ódio deve ser vertido hoje para que amanhã o amor seja mais doce”.


“Vence-me.
Vence também os leões.
E a terra será tua“.


A wu dlhawi kule, u dlhawa kola, xivanza nyongueni: o que te mata não está longe, está aqui, perto de ti (só te trai em quem confias).




Paulina Chiziane, O Sétimo Juramento

quarta-feira, junho 29, 2005

Frase da fome de alguém: "Criaste o monstro... alimenta-o!!"
Frase da fome do monstro: "Tenho fome de alguém".
O DIÁLOGO QUE SE SEGUE É DA NOSSA i RESPONSABILIDADE, e foi gravado sem tu saberes no Jardim da Sereia e da Celeste (reed.)

- O que mais relevante aconteceu ontem?
- Nada propriamente que me lembre de cabeça. Fui à tarde ao Santa Cruz. Um tipo estranho e bêbedo insurgiu-se no meu caminho para eu lhe apertar a mão, mas eu evitei-o.
- E à noite?
- Tive uma reunião com o pessoal das aulas. Confesso que aquilo atrofiou-me um bocado. A superstar D saiu mais cedo, uma parte da minha matéria passou para o J, mas ainda bem. A F estava incrivelmente sexy. Fantasiei abrir-lhe a camisa e meter a boca nos seus seios.
- És sempre o mesmo! E mais?
- Olha, acabei por sair com o P que me telefonou. Ainda encontrámos o M no Tropical mas ele estava preso às cenas dos anos e ia ver a fórmula 1. Fomos à porcaria de um pseudo-bar de jazz, um sítio nojento de betos, fomos ao Piano Negro, encontrei lá pessoal como o R e o F, depois fomos ao Buraco Negro.
- E então? Aquela cena da S é sempre dúbia, não é? Também veio a D, não é, a perguntar sobre o hoje...
- Exacto. Sinto-me estranho... não é que tudo seja igual. Muito pouco a declarar. O metálico curtiu o CD, estavam por lá o D mais a namorada, o F da Figueira mais a namorada...
- E depois saíste e tiveste aquela sensação...
- Sim, quando estava a falar com o P e pairámos cá fora para ouvirmos a música dos Sisters of Mercy... para eu lhe dizer que a cantora Ofra Haza morreu. Quando me virei vi a C a entrar.
- Chocou-te?
- Terrível, terrível. Até mais porque à tarde tive aquele déjà vue ao passar sistematicamente pelo Trianon e ela estar lá sentada sozinha. Ainda pensei lá ir mas resolvi não me tornar ainda mais estranho. Estive muito tempo a falar com o P sobre as realidades paralelas que são perfeitamente possíveis de se viver.
- E hoje o dia desabou?
- Foi o pior dia do ano em tempo. Não me lembro de um aguaceiro tão grande. No entanto, até agora pelo menos, acho que foi o melhor dia do ano. Encontrei-me com a D em frente ao Tropical em pleno aguaceiro. Passámos ainda pelo TAGV. Surgiu o Louco que também a conhece. Fomos até ao Avenida, até ao meu mítico café Zami.
- E então? Sei que houve uns momentos mais fracos, mas tu conseguiste com que as coisas funcionassem...
- Até um certo ponto. Falámos sempre sobre coisas demasiado íntimas.
- Ela é linda, elegante, sexy...
- Mas demasiado volátil. Menti-lhe quando disse que sabia o que esperar ou contar das pessoas. No caso dela não consigo ver isso, como se houvesse um véu de cimento.
- E leste-lhe alguns poemas?
- Exacto. Terrivelmente único o momento, terrivelmente lindo. Senti que o “Peito contra o peito nu contra o espelho” a afectou terrivelmente.
- E depois, subiram até à Praça para tirarem os carros...
- Sim, e as despedidas são sempre a pior das coisas. Beijámo-nos por baixo de um céu que secava, mas tudo à nossa volta estava feito em água, lagos e lagos, lagos e rios, lágrimas...
- Não delires, diz-me uma coisa... gostavas de a ter no pleno sentido, tu sabes...
- Adorava, seria como a dádiva de um deus em que não acredito, mas generoso. Como um privilégio. Gostava de amar essa mulher, mas não no sentido em que o costumo idealizar. De uma forma completamente nova mas intensa. Amá-la intensamente. Parte de mim foi com ela.
- Levou os teus poemas, não foi?
- Ah! Ah! Armado em esperto!? Tu entendes e nós entendemo-nos.
LETRAS DE UMA SÓ PALAVRA
“As tropas daqueles que são hábeis na guerra podem comparar-se à serpente do monte Heng. Quando atingida na cabeça, a sua cauda ataca. Quando atingida na cauda, a sua cabeça ataca. Quando atingida no centro, tanto a cabeça como a cauda atacam”.

Sun Tzu, A Arte da Guerra

segunda-feira, junho 27, 2005

Frase da maldição enterrada nas letras: “Pela obsessão, pela paranóia, mas simplesmente pela loucura, estás-te a transformar naquilo que escreves”.


Noite de Absurdo Noite de Estranho Noite de Vago
para além do sonho daquele que não dorme procurando as setas no coração dos envenenados cães que bebiam junto ao rio tornou-se perplexo e tudo volta a transformar-se em sombras que iluminam o cadáver dançante do existir
longe de ti para sempre e nunca mais
Noite de Absurdo Noite de Estranho Noite de Vago
os dilemas que terminam nas mãos que não se tocarão outra vez o limbo gera a luz a criança os seus passos perdidos transformam-se ao passar pelo túnel deste existir
Noite de Absurdo Noite de Estranho Noite de Vago
para além do sonho daquele que não dorme disparando as setas ao coração dos envenenados cães que uivavam junto à ponte de madeira tornou-se perplexo e tudo volta a permanecer nas sombras que apagam o cadáver cantante do viver
longe de ti para sempre e nunca mais.
RMM
(um velho poema sem amor nem glória)
LETRAS DE UMA SÓ PALAVRA
“Vês, Mimi: a morte, a dor, não nasce limpeza mesmo que os cadáveres estejam limpos próprio, higiénicos e bonitos, como tu soluças. Cá estou eu a te levantar a saia, miúdo ordinário que me xingavas, e a culpa não é tua, não é minha, não é de ninguém: é de todos nós que deixamos nascer jacarés na água pura”.



José Luandino Vieira, Nós, os do Makulusu

sábado, junho 25, 2005

Frase da constatação básica: "Excesso de razão é igual à ausência de toda e qualquer razão- por isso, raciona mais e raciocina e racionaliza menos".
A CONVERSA QUE SE SEGUE É DA i RESPONSABILIDADE DOS SENHORES QUE NÃO SE SEGUEM, e foi gravada em segredo numa casa de alterne (reed.)

- Por que é que vieste cá parar?
- Vim cá parar com o mesmo embrutecimento gradual, perda de sensibilidade...
- O que é que entendes por perda de sensibilidade?
- Não sei, antes ainda havia tristeza ou ódio, hoje só sinto embrutecimento.
- Algo de mau?
- Algo como ser mau. Ou pensar que posso caminhar para lá.
- O que é que é mais saudável?
- Tudo menos este desligamento obtuso. Sinto-me como num flipper.
- Quais são as soluções reais?
- Não existe realidade para existirem soluções reais.
LETRAS DE UMA SÓ PALAVRA
“Na dor, que é precisamente uma dor criada perpetuamente pela consciência que dela se toma, que se faz ser, que não é nunca suficientemente sincera, suficientemente dolorosa- todos os romancistas assinalaram a espécie de afectação que há em toda e qualquer dor, porque se faz ela ser, e a espécie de pesar por ela já não ser-, em qualquer dor há dor dos outros, a qual nós só vemos sob a forma que lhe dá o seu corpo, que é um objecto particular e que, nesse momento, nos aparece como um ser. Mesmo o sonho de uma dor é ser uma dor que é, e não uma dor que seja como consciência de ser”.

Jean-Paul Sartre, Consciência de Si e Conhecimento de Si

sexta-feira, junho 24, 2005

Frase do avô Simpson à sua amada no episódio que pude espreitar hoje à tarde: “Lembras-me um poema de que já não me lembro”.


LETRAS DE UMA SÓ PALAVRA

“Pobre humanidade!-
Uma gota de sangue a mais ou a menos, em nosso cérebro, pode tornar extremamente miserável e dura a nossa vida, de tal modo que sofreremos mais com essa gota do que Prometeu com o seu abutre. O mais terrível, porém, acontece quando não se sabe que essa gota é a causa.
E sim «o Diabo»! Ou «o pecado»!-

Friedrich Nietzsche, AURORA

(dedicada ao Mohammad que hoje me fez escutar e dizer as palavras essenciais)

Frase a 15 mnts. de um esgotamento nervoso e farto de mostrar segurança quando estou estilhaçado por dentro: "Preciso de conselhos sábios, pá, atitudes esclarecidas, visão e orientação, estratégias definidas e não me venhas com o óbvio que se diz sempre nestas alturas: Só tu te podes ajudar, fazer por ti e para ti, etc. e tal, não sei dar conselhos; assim não, pá, ajuda-me a definir linhas de força porque os próximos 15 mnts., depois dos primeiros, são mesmo para o tiro na cabeça se, depois do esgotamento, ainda tiver forças para ir procurar as balas".
Ruído e som desenho de luzes na pálida esperança do néon os tigres de bengala e cartola saem à festa do dia dos mortos alheio ao vestuário o teu regresso a casa adiado para o ano que vem eles não sabem que os bêbedos correm em contramão o teu sonho desliza no choque frontal do camião que carrega os porcos.
RMM

quarta-feira, junho 22, 2005

Frase informativa sobre onde estarei amanhã à tarde (como se isso importasse lá muito!): "Estarei pela esplanada para assistir ao morrer da tarde a arder... apareces?".
O DIÁLOGO QUE SE SEGUE É DA i RESPONSABILIDADE DOS AUSENTES, e foi gravado em segredo na paragem do autocarro para o holocausto (reed.)

- Voltamos às perguntas?
- Inevitavelmente. Talvez seja uma consequência da solidão ou a necessidade de fazer de terapeuta contra a minha sociofobia.
- Ontem lá foste a casa do velho R. Noite pseudoanimada a ver a queda socialista e a queda do governo. E hoje?
- Uma certa depressão e um certo mal estar. Levei a T à estação, não fui ter com os pais ao Gira. Não consigo lidar bem com o meu pai, sinto-me distante e sempre com um certo medo dele.
- Nada que já não se saiba. A depressão atingiu-te quando te cruzaste com o E, depois a solidão que sentiste no Luna, a boa da loira em flirt contigo e tu longe, e tu longe... sempre a mesma merda! Depois a outra tipa do Foyer passou por ti e teve medo de te encarar. E que mais?
- O vazio à volta no Foyer, a velha N. A volta pelo Avenida, comprei o livro do Umberto Eco para oferecer à mãe e “A vida sexual de Catherine Millet”, escrito pela própria, para mim. Preciso de estímulos. Saquei a morada da F através da Q, mais um sítio para enviar uma carta armadilhada.
- Sei que pensaste, mais uma vez, em suicídio... achas que ainda o farás?
- Não sei. Ah! Ah! Ah! Se o fizer não viverei para contar como foi!
- E hoje?
- Zero. Não fui às finanças. Acordei tarde e porcamente. Parei no Tropical, troca de palavras com a A, vi o G no Foyer. Vi o velho R com a tipa que lhe mete os cornos.
- Não consegues disfarçar esse rancor?
- Nunca, seria hipócrita dizer que estou interessado na felicidade dele. Talvez o triunfo não fosse o tipo ser fodido, seria muito mais relevante uma qualquer vitória da minha parte... por mais difícil que isso me pareça.
- Esta tarde tiveste aquele pensamento: não tens uma vida normal mas também não tens uma vida anormal.
- A grande questão é mesmo essa, uma vida paranóica, e por outras vertentes, poderia colmatar as falhas desta, mas a verdade é que isso não acontece. Sinto-me num limbo em que ninguém comunica: mando CVs para empresas que não me respondem, mando livros para editoras que não me respondem. Quando saio, embora seja cedo, apanho sempre a noite. Transtorna-me profundamente. Aprendi a viver sem muitas coisas e, por mais bizarro que tal me pareça, creio que há qualquer coisa de negativo e de sobrenatural a pairar sobre mim.
- Percebo perfeitamente. Embora o lado místico esteja a ser apagado devido aos ecos da vida concreta e do trabalho, objectivos definidos, todas essas merdas... algo que, na pura realidade, não existe realmente. Ontem paraste a ver o presépio dos bombeiros. Creio que a última vez que lá estiveste foi na puta do Natal de 98. Não é assim?
- Penso que sim. Passeei pela Baixa, mas mesmo sendo Natal, não vi nenhuma animação ou as pessoas a atafulharem-se nas lojas. A recessão tem diversos condicionantes, atinge-me e atinge a todos, mas estou-me um pouco a cagar para o sentimento de que os outros lá terão os seus problemas. A eterna dúvida: se eu me quisesse matar não me afectariam as merdas da vida corrente, ou... eu talvez me queira matar devido às merdas da vida corrente.
- Achas mesmo?
- Não foi, nem de perto nem de longe, a vida que imaginei para mim. Não sou nada que possa definir com clareza, não sou um retornado nem chego a ser a África na diáspora, não chego a ser são nem chego a ser louco. Uma obsessão que não se concretiza não é nada, não me sinto próximo de nenhuma classe ou grupo etário, não sinto afinidades com este ou com aquele grupo, valores, ideias, interesses..., nem próximo desta ou daquela pessoa quando só existe um Eu sentado na mesa do café... A beleza física que se extingue não me trouxe nada, a sensibilidade muito menos, e também ela se extingue, a inteligência acima da média muito menos, não me levou a sítio algum... ainda sinto com uma intensidade latente o medo e um forte e terrível sentimento de culpa.
- Um autêntico discurso catastrófico?
- Nada que já não escreva ao longo destes anos. Tornei-me num animal amestrado e isolado. Até os sonhos de sangue e de ódio deixaram de ser predominantes. Embora não me seja indiferente, a minha vontade de ir é igual à minha vontade de ficar... embora, grande lástima, não passe muito por mim escolher esta ou aquela vertente.
- Porquê a necessidade de colocar os pensamentos em ordem quando já não existe ordem alguma?
- ... fiquei sem resposta. O amor ao que foi não substitui, ou pode alguma vez substituir, o amor às coisas que têm de ser conquistadas... Olha, uma criança com um gorro de Pai Natal está a pontapear um caixote de cartão...

segunda-feira, junho 20, 2005

Frase: “Gosto de ti como tu não és”.

DELETE (palavras temporárias a despropósito)

Sempre que rodo as chaves da porta e entro em casa sinto o bater suave das patas do meu cão que morreu há mais de dois anos a riscarem o verniz.

Não me esqueci outra vez mascarei a dor enterrei o orgulho passeei por casa perseguem-me como fantasmas mas não faz mal porque a vida também ela é vácuo.

Frase sobre o Espaço: Vazio…

Ininterruptamente sem interrupções todavia interrompido por e para.

O quê?

Esquece
de mim não terás mais nada e de certeza que terás quem te diga coisas melhores mais bonitas mais belas com ou sem significado não me importa finjo que escrevo a história mais triste na gargalhada que não foi lida parágrafo a parágrafo falso na frase que não acaba na hipocrisia destas quatro palavras:

Anjo
Sombra
Silêncio
Fantasma

Qual das quatro escolhes?

Quanto a mim…

Renego o talento que não tenho no cano da arma de pólvora seca se eu voltasse atrás e tivesse visto o cãozito da miúda que brincava junto ao passeio antes de o matar de certeza que teria sido um homem mais feliz mas não sei se voltasse atrás e tivesse beijado a A junto ao metro naquele dia dos namorados de certeza que seria um homem feliz se eu voltasse atrás e pensasse que era loucura pensar sequer em voltar atrás de certeza que seria um homem mais feliz mais à frente.

Mas… não obstante o verso sorrateiro e negro eu sinto que sou um homem feliz por detrás das margens.
E tu…
Em que planalto da folha finges que habitas?

Podes morrer pode ser que eu te mate mas enquanto não mudo de casa tenho a certeza que és o meu fantasma.

Anda traz-me os teus grilhões e finge que a ferrugem não existe. Eu prometo-te que não te enforco com eles. Talvez eu não seja tão mau quanto pensas. Mas mesmo assim tenho dúvidas.
Prefiro que não voltes.

Então… aodiabo porque dizer adeus soa-me a falsidade e loucura.
Desenterrei-o da gaveta esta noite de sombras mas também ela será tragada pela luz da manhã.
Não venhas aqui quando é noite porque os monstros do armário ainda se lembram do teu rosto e não convém brincar com os monstros do armário.

Como era morbidamente vivo o teu rosto…

Todas as vezes que rodo as chaves de casa sinto as patas do meu cão que morreu há dois anos a riscarem o verniz ainda ouço o seu ofegar o seu focinho inquieto a sua sombra de eterna dúvida como se corresse outra vez pela mata fugindo da trela dos homens e dos seus fantasmas mas eu chamo-o e ele corre até mim estaca perplexo pela ordem e como se não fosse nada ele apenas ladra.
Ele apenas ladra.
Ladra aos meus ouvidos.

Tal como eu ladro à tua mudez.
RMM

sábado, junho 18, 2005

Frase: "Estacionei o carro junto ao lugar do crime da noite em que te tive nos braços".
Não sei se foste o meu período das trevas, a minha Jahiliya, ou se terminaste com ele.
Um simples gesto poderia ter feito a diferença, mas sinto que estive sempre de mãos atadas.
LETRAS DE UMA SÓ PALAVRA
"Nenhuma acção humana é neutra ou sem consequências".
Wallerstein

sexta-feira, junho 17, 2005

Frase: "É como um coração sem alimento... devora-se a si próprio".
O DIÁLOGO QUE SE SEGUE É DA AUTORIA DOS POBRES DE ESPÍRITO, e foi gravado em segredo num convento jesuíta. (reed.)

- O que é que fizeste ontem?
- Sabes bem que fui a Aveiro com o básico amigo de sempre, o F. A única pessoa que se manteve ao longo destes anos todos. Talvez por também ser um solitário e um anti-social.
- E o que é que fizeram?
- A verdade é que, como é hábito, encontrámo-nos ao acaso na Praça. Não tinha vontade de ficar em casa com a C e o L.
- Porquê?
- Para não me chatearem com a cena de ir para Lisboa e etc. e tal. Além do mais o ambiente não era dos melhores devido à cena da queixa policial.
- Essa é boa!! Ah! Ah! Ah!
- Eu sei que tem uma certa piada, mas para a cabeça da família e de toda a conjuntura, sabes, acaba por ser meio fodido.
- Mas sobre a cena de Aveiro...
- Pois, estivemos na porcaria do café Tropical. Topei os olhos das pessoas...
- Eu sei o que queres dizer, toda a gente, pelo teu aspecto, incluindo esses brasileiros, pensa que dás no cavalo. Chateia-te?
- A verdade é que não me chateia assim tanto. Apesar das cenas do pessoal estúpido ou do Lap. Desde que não me prejudique muito... deixai-os pensar! Eu gosto de provocar os fantasmas básicos das pessoas daqui.
- Mas sobre a cena com o F...
- Pois, fomos para Aveiro. Jantámos no mesmo sítio. Depois fomos ao bar, o Chuta Cavalo, depois a casa dele, numa de ressacar, depois fomos a outro bar, penso eu de que. Nisto começou a chover como se o céu nos vomitasse em cima.
- E então que mais?
- Viemos para Coimbra. Fomos ao Piano Negro como o havíamos, já antes, planeado. Quase que podíamos ter ido ao Buraco Negro mas já não havia $ disponível. Já era meio tarde e as coisas talvez já se tivessem estendido até ao seu máximo.
- Rejeitaste o velho vício?
- Sim, eu próprio tenho-me sentido desesperado e com medo.
- Já lá vamos. O resto do dia já se sabe. Não foste com a família ao cemitério, talvez aliado a esse mesmo medo. Viste a R a passar com um gajo qualquer, um namorado seboso...
- Atentemos ao grande preconceito inerente a essa descrição. O nosso grande ódio e desprezo pelo que não se consegue ter devido às múltiplas incapacidades que se conhecem.
- Chateia-te a cena?
- Não digo que não me tenha chateado um pouco. Não sei se era o tanso do DJ D, um dos grandes palhaços do lounge e da pseudo-sociedade dos armados em intelectuais da boémia. No fundo um pessoal que gosta é de estar com um chupa-chupa na boca. Eles que chupem!!!
- Tirando o desprezo, o que mais sentiste?
- Ela foi uma cena que se dissolveu. Houve um tempo em que pensei que poderia surgir qualquer coisa, o quê não sei. Mas havia algo...
- E por que é o Algo deixou de haver?
- Ela foi desaparecendo da minha vista, até mesmo da merda deste sítio em que nada acontece. Eu também deixei de ir ao Lounge e ao States. Não tinha como acompanhar esse circuito e nem sei se o queria!
- E a cena dela passar por ti e não te cumprimentar?
- É estranho, ela evitava mas fazia-se aos meus olhos como se estivesse à espera que eu a chamasse. Metia uma máscara de isolamento nela própria... mas falso, sim... porque eu sei o que é o isolamento e isso sempre está patente na forma como as pessoas me vêem. Podem-me falar de muita coisa... mas não me venham falar de solidão a mim.
- Achas que ela é uma grande vaca?
- Talvez uma pequena vaca. Não era nem podia ser a musa que eu queria, mal grado o poema e a carta para ela. O meu estigma é de tal modo grande que destrói tudo o que estiver à volta.
- Mas também ela surgiu muito devido à conversa do R.
- O R é = a ele próprio, ela para ele seria equivalente. Ele lambuzar-se-ia com as conversas com ela, mas duvido que lhe saltasse, não obstante as conquistas que começou a alcançar ultimamente.
- Já que morreu, que morra de vez...
- Talvez sim ou não, não sei. A distância é de tal modo grande que já não vejo as coisas. Sei o que as pessoas falam de mim...
- Algo como que etéreo...
- Um corpo sem vida “com os olhos completamente mortos”.
- O teu pai a chatear-te...
- Qualquer coisa que ele me diga é quase como que um ataque. Custa-me muito senti-lo de outra maneira.
- Desististe de pensar na de cabelo preto?
- Mesmo que eu não queira eu penso. Tento é não ter um compromisso tão grande por essa imagem antes que eu me destrua ainda mais. Mais uma vez...
- Como com a R?
- Como com todas. Desde a ex até à homónima dela, a grande desilusão da história toda, de toda esta história, que se foda...
- Quais as soluções?
- “Solução final”, morte de qualquer maneira não vivo há muito tempo. Viajo e vejo os rostos todos com quem não falo, mas com quem já comuniquei mais de mil vezes de mais de mil e uma formas.
- Emprestas-me dinheiro?
- Eu passo-te um cheque se disseres que me amas.

quinta-feira, junho 16, 2005

Frase: “Devolve todos os teus cadáveres… à morte que eu tive… quero-a de volta”.

Mestre, tantas vezes não sonhei eu com o Tigre de Brâmane, as partículas constituídas de vazio consomem-se umas às outras… Imaginei ser o camponês na floresta, conjunto de partículas agregadas, a maior parte delas constituídas de vazio. Encontrei-me diante do Tigre de Brâmane para ele me matar, para consumir o conjunto de partículas agregadas do meu ser, soma e soma de vazio. Ansiei por aquele encontro para ele me matar, o nada de encontro ao nada, o mesmo nada de encontro ao outro nada que se consome. Mestre… Corri para ele me matar, para me fazer viver no seio da sua própria vida, estendendo-me ao longo das suas partículas, átomos compostos, soma e soma de vazio. A minha morte para a vida do Tigre de Brâmane, para ele e eu passarmos a ser um único ser apenas. Mestre, a vida continuará nas mandíbulas do tigre, a minha vida passará para ele, de uma certa forma continuarei a viver nele…como uma extensão da morte, como uma extensão da vida… Não sei. Acredita que já não sei. Mestre, ouvi da tua boca Ex Nihilo Nihil, Nada vem do nada. Então… Explica-me, agora, onde se encontra esse mesmo nada. Diz-me o que foi, no fundo, o que se consumiu. Diz-me onde se encontra essa floresta agora. Porque, neste momento de palavras mortas, não sinto que aqui pulse vida. Mestre, explica-me o porquê de toda esta fome. O porquê de me sentir não mais eu, de me sentir não mais nada. Explica-me as razões para ser e não ser… o próprio Tigre de Brâmane.

quarta-feira, junho 15, 2005

Frase: "Se não queres viver... não finjas!!"
O DIÁLOGO QUE SE SEGUE É DA AUTORIA DOS AUSENTES, e foi gravado em segredo numa boutique de pão (que é mais “bem” do que padaria) (reed.)

- Por que é que estás chateado?
- Sei lá!!! Porque a puta da vida chateia-me, não tem continuidade. Vivo no abstracto das coisas.
- O que é o abstracto?
- É qualquer coisa que não é concreta, não tem realidade palpável. É o pensamento que me persegue, que me escreve, que me mutila...
- Dizes que é o pensamento...
- Exacto, a inércia dos dias, dos acontecimentos, das pessoas ou da falta delas!
- Por que é que não fazes qualquer coisa para passar o tempo?
- Olha, hoje bati duas punhetas, talvez ainda bata outra, a ver filmes porno. Fiquei com a piça dorida...
- Não é isso, caralho!! Por que é que não te ocupas com algo?
- Eu tento ler, às vezes leio... ler é uma continuidade. Escrever nem sempre consigo, quase nunca consigo. Faz-me tédio, percebes? Mais do que tédio... é antes uma grande preguiça... um grande medo...
- Por que é que não estudas?
- Realmente... sim, devia fazer o Seminário, não sei é como. As outras cadeiras... na sua altura... se conseguir. Tenho que conseguir!
- Isso é confuso... Sei que não vais às aulas... Como é que passas o tempo?
- De vez em quando acordo mais cedo. Saio para tomar café. Continuar a fumar como um cavalo. Gastar $ em máquinas. À tarde... tomar café, geralmente no do Teatro, tentar encontrar um ambiente agradável para qualquer coisa de ler ou de escrever, conforme. Geralmente estava por lá o P, agora foi-se embora, o R vem às vezes... começo a ter-lhe uma certa hostilidade, talvez seja mútuo... não sei. Ele valeu-se da imagem da T para se insinuar nos sítios, em parte arrastou-a para a merda da noite onde conheceu e conhece toda aquela escumalha.
- Porquê escumalha?
- Porque toda a gente é escumalha!!! Até eu sou escumalha!! Gostava de matar toda a gente! E... agora que penso... não é bem matar, é antes esventrar, arrancar-lhes os olhos, esfaquear, sei lá...
- Por que é que não te acalmas?
- Porque a calma é o vazio, a inércia, o não querer saber...
- Não consegues ver meio termo?
- Homens malditos vão de um extremo ao outro e eu cada vez me sinto mais maldito.
- Como à imagem de todos aqueles escritores malditos?
- Talvez... não esses, talvez outros que, presos à sua consciência implacável, como o Lautréamont dizia, não conseguiram sair do vazio, do nada. Perderam-se no pó das coisas. Talvez seja o que me reserva.
- Mas... e o que mais fazes durante o dia?
- Como diria o Poeta: “O mesmo que durante o resto do tempo”.
- O quê?
- “Nada”.

terça-feira, junho 14, 2005

Frase: "Devolve a inocência ao teu coração ou esmaga-o".
A vaca Mimosa sobre o pasto pasta o bigode de Dali que caiu da tela verde versus vermelho a espiral do tempo rasga a desbotada capa do toureiro que mata o surreal touro da arena é o Minotauro que acorda num estranho enlevar de dedos um a um a branca luva dos amantes dorme e quando acorda cai o quadro contra o punho cerrado do meu sonho na adaga de encontro ao outro... lado da parede.
RMM

segunda-feira, junho 13, 2005

A Vasco Gonçalves, a Eugénio de Andrade, a Álvaro Cunhal, mas também a outros anónimos que a história tende a esquecer nas suas gavetas de despojos: "Vermelho a tudo e todos contra a morte".
LETRAS DE UMA SÓ PALAVRA
"Já não consigo mentir mais. Não quero embaraçar mais este desporto. É simplesmente o meu fim. É assim, acabou".
Mike Tyson (depois do abandono frente aos punhos de Kevin Mcbride)
Frase: "Regresso ao inferno no céu da tua boca".
As horas avançam na madrugada vazia de sons mas... então porquê toda esta inquietude dispersa a descoberto nesta nota que te envio para o futuro onde quer que ele se encontre connosco meu amor o filho no teu ventre não sei se poderá ser meu por mais que tu mo peças outra vez tal como ontem e no agora não sei se as amarras do barco partirão tábuas de baloiço de criança no berço enquanto o papão não vem sangue de sereia grito de enforcado não sei se o filho no teu ventre um dia poderá ser meu envelhecemos o futuro à custa de olhar para trás a pensar que estávamos a olhar em frente mas... não sei agora que as voltas endiabradas de Junho parem os seus os diabos de contornos humanos rostos de anjos dispersos estamos perto um do outro mas... cada vez mais perto do já não aqui estar nem um nem o outro demos com os cornos na parede à custa de a querermos nossa gravámos o amor no tronco da árvore à conta de ela não secar meu amor mas ela secou meu amor mas ela secou meu amor sob a seiva e sob o sangue de volta às voltas endiabradas de Junho em que já não posso nem sei ser o homem que eu era meu amor se já nem agora sei ser o homem que sou meu amor desculpa mas... não sei se o filho no teu ventre um dia poderá ser meu.
RMM

domingo, junho 12, 2005

Frase da razão: "Esta?!"
Renasci cedo de mais e ao contrário do que pensas não sobrevivi à morte alheio de tudo as crianças de olhos pretos voam sobre a minha janela eu queria que voasses como quem se suicida sem saber que o faz ingenuidade de criança belo sorriso algodão doce no meio da festa das bruxas acredita em mim não me importo de voltar voarei sobre o ninho das pombas.
RMM
Frase da razão: "De quem?"
Nada que existe que antes não se tenha imaginado imagino-te assim passeando na solidão do passeio que ladeia o rio da nossa cidade é Verão está seco da mesma maneira que a fonte também secou mas a sede é ainda imensa a nossa sede é ainda imensa
e não se satisfaz com água pés e com guaranás continua assim espera então que anoiteça
para que as feras adormecidas venham beber no teu leito.
RMM
Frase da razão: "Qual?"
DRAMAS SUCESSIVOS
Bem, depois de ontem ter discutido com o meu cunhado, parece que hoje calhou a vez de ser com um velho amigo. Não vou pedir desculpas ao meu cunhado, mas gostava de o fazer em relação ao velho amigo e gostava que ele não entendesse isto como qualquer forma de cinismo ou falsidade. Admito certa irritação minha e uma péssima e terrível má escolha de palavras. Sinto muito, pá, admito que errei. Mas da mesma forma que sinto que interpretaste mal as minhas palavras (devido a não terem sido as melhores) também eu sinto que interpretei mal as tuas. Há dias assim, em que a razão à flor da pele não é nada e em que cada vez me sinto mais afastado desse mesmo nada que sempre seria alguma coisa.
Tempo de um poema...
O ANJO SEM SORTE. Atrás dele o passado dá à costa, acumula entulho sobre as asas e os ombros, um barulho como de tambores enterrados, enquanto à sua frente se amontoa o futuro, esmagando-lhe os olhos, fazendo explodir como estrelas os globos oculares, transformando a palavra em mordaça sonora, estrangulando-o com o seu sopro. Durante algum tempo vê-se ainda o seu bater de asas, ouvem-se naquele sussurrar as pedras a cair-lhe à frente por cima atrás, tanto mais alto quanto mais frenético é o escusado movimento, mais espaçadas quando ele abranda. Depois fecha-se sobre ele o instante: no lugar onde está de pé, rapidamente atulhado, o anjo sem sorte encontra a paz, esperando pela História na petrificação do voo do olhar do sopro. Até que novo ruído de portentoso bater de asas se propaga em ondas através da pedra e anuncia o seu voo.


Heiner Müller
Frase do IA ACORDAR PARA A REALIDADE: “O despertador não tocou”.


Parabéns! Parabéns! Parabéns!!


Aos nossos sucessivos governantes, a toda a classe política e aos diversos lobbys e macro e micro poderes vários por, finalmente, terem solidificado a presença do país no tão falado terceiro mundo (mesmo tendo em conta que a designação “terceiro mundo” tenha sido uma invenção do primeiro).
É mesmo bom sinal saber que a tão célebre prática dos arrastões (leia-se grupo de pessoas a correrem em grupo em busca dos pertences de outrem) está mesmo a tornar-se numa moda a ser seguida por cada vez mais adeptos. Esta inevitável comparação com o Brasil (tão somente um país em que as discrepâncias sociais são brutais) só vem reforçar a tese de que o desemprego, a falta de expectativas, os bons exemplos de idoneidade e respeito vindos de quem nos governam estão mesmo a surtir efeito. Porque, agora, nós sabemos que o maior problema com que o país se debate não é o défice. Não, não senhor. Nós sempre soubemos que o maior problema do país é a obesidade. E, não, não nos referimos aos estômagos bem alimentados de certas profissões bem respeitáveis como as de ministros, políticos ou grandes empresários que só declaram rendimento mínimo. Falamos mesmo da obesidade real pois, aliás, não é à toa que os nossos primeiros-ministros têm sido (ultimamente, é claro) pessoas magras. Está-se a tornar mais do que evidente que as pessoas estão a optar por uma vida saudável. Correr na praia sempre fez bem à saúde e ainda melhor se tivermos companhia. O espírito de equipa deve ser fomentado e esta corrida pelo emagrecimento é o mais fiel dos exemplos. Este súbito interesse pelo desporto e pela vida ao ar livre vem reforçar a ideia de que as políticas seguidas pelos últimos governos têm surtido efeito. A todos eles os nossos sinceros parabéns!!

quinta-feira, junho 09, 2005

Frase: "Vieste parar aqui por acaso ou foi um acto (im)pensado?"

Síndroma da velhice ou talvez nem por isso:
Há coisa de uns dias a polícia interrompeu um ensaio da minha banda porque, aparentemente, houve uma denúncia anónima pelo excesso de barulho. Eu sei que já passava da uma e tal da manhã… mas mesmo assim… não creio que fosse nada de outro mundo. Não deixa de ser estranho, descontando o pormenor burlesco, que essa mesma denúncia tenha sido feita (segundo o relato a posteriori pela coscuvilhice local) por uns certos vizinhos- passadores de droga da A a Z. Não é grande novidade, grande parte das vezes quem mais teme a lei é quem mais a lei invoca e que nela se refugia. Como se… se tendo consciência do próprio “erro” fosse muito mais fácil apontar os erros dos outros. Mas o que mais me causou esse sentimento de estranheza foi o ter feito a comparação com a primeira invasão policial a interromper o nosso processo criativo\destrutivo em marcha. Lembrei-me… O que tinha eu no bolso há 11 anos atrás? Pelo que me lembro… um maço de cigarros, uma navalha ponta-e-mola, um pacote de preservativos, as chaves da motoreta, uma carteira com alguns trocados, a fotografia da namorada, um quanto de haxe embrulhado em prata de cigarro. O que tinha eu 11 anos depois? Dois maços de cigarros, as chaves do carro, uma carteira recheada com cartões de gestores e directores vários e o bilhete do jogo Portugal- Eslováquia. A constatação é mesmo deprimente. Acho que estou mesmo a investir no que não devo e a desinvestir no que devia. O mesmo não se passa em relação à polícia. O cacetete sempre me pareceu um instrumento de trabalho intemporal e útil.

quarta-feira, junho 08, 2005

Frase: "Não há nada de estranho... é apenas a lua a uivar aos lobos".


LETRAS DE UMA SÓ PALAVRA

"Ken Ki Ma Bô Leña Ta Ma Bô Sinza".
(quem é mais lenha do que tu também é mais cinza)
Ditado Crioulo

sábado, junho 04, 2005

Frase: "Deixa que esse mesmo tempo que queres dar ao Tempo seja, então, o próprio Tempo a definir".
LETRAS DE UMA SÓ PALAVRA
“Ainda tenho bastante que aprender, senhor, e disse à minha alma: voa até aos meus ouvidos e escuta, voa até aos meus olhos e não percas nada do que vires”.
Bernard-marie Koltés, Combate de Negro e de Cães

quarta-feira, junho 01, 2005

Frase (a eterna e única): "Se os vivos não te ouvem escreve para os mortos".
LETRAS DE UMA SÓ PALAVRA
"A cada idade do homem corresponde uma certa filosofia. A criança mostra-se realista pois está tão convencida da existência de uma pera ou de uma maçã, como da sua própria. O adolescente, atormentado por paixões íntimas, é forçado a dar-se conta de si próprio, a pressentir-se a si mesmo e transformar-se-á num idealista. Pelo contrário, o homem adulto tem todos os motivos para se tornar um céptico e faz bem em duvidar de que o meio que se propôs como objectivo seja o correcto. Antes da acção e na acção tem todos os motivos de considerar o entendimento como coisa movediça a fim de que, depois não tenha de arrepender-se de uma opção inadequada. O homem que envelhece, reconhecer-se-á a si mesmo, cada vez mais, no misticismo. Ele vê que tantas coisas parecem depender do acaso, que triunfa aquilo que é irracional e fracassa o que é racional, que a felicidade e a infelicidade se equilibram. Assim é, assim era. E a idade avançada repousa naquilo que é, que era e que será".
Goethe
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AINDA NÃO ME DEI AO TRABALHO DE ORDENAR ALFABETICAMENTE (AZAR!)